São Paulo, segunda-feira, 18 de agosto de 1997
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Em 98, festival refunda-se ou devora-se

AMIR LABAKI
ENVIADO ESPECIAL A GRAMADO

Emprestando a fórmula usada por Truffaut para classificar Cannes-58, não há nem polêmica a estabelecer, tão evidente a frustração sobre o 25º Festival de Gramado.
A César o que é de César. A volta de Esdras Rubim à coordenação geral, depois de quatro anos fora, devolveu em tese a Gramado o foco: nas palavras dele, "voltar a ser um festival de cinema".
Festivais de cinema são movidos por filmes e encontros. Gramado-97 saiu-se bem apenas no segundo termo. Em primeiro lugar, voltou a privilegiar a presença dos profissionais de cinema em vez dos coadjuvantes de ocasião.
Em segundo, promoveu três importantes debates: produtores, distribuidores e exibidores, pesquisadores de cinema do Mercosul e diretores dos festivais brasileiros.
O sucesso fora das telas esteve longe de compensar a mediocridade da seleção dos títulos em competição. A disputa brasileira depôs fortemente contra o decantado renascimento do cinema nacional.
Superficial
"For All", o grande vencedor, é uma comédia superficial e bem produzida que fica muito além do belo tema que elegeu. "Os Matadores", o segundo mais premiado, é uma estréia menos promissora do que apontavam os curtas de Beto Brant. Já "Bocage" é biscoito fino demais para o evento.
São os três que contavam. Os outros três acabaram saindo também generosamente premiados, no lucro. "O Homem Nu" não está à altura das deliciosas comédias iniciais de Hugo Carvana.
"Buena Sorte" é o típico equívoco dos filmes que acham conhecer o público que almejavam. Por fim, "O Amor Está no Ar" foi comprometido demais pelos problemas da produção.
A competição ibero-americana, dita latina, reprisou as limitações de sempre. Continua feita por títulos fracos ou requentados.
"O Testamento do Senhor Napomuceno" é um justo monumento para o festival deste ano: tão cheio de boas intenções e de furos quanto o evento. O estupendo desempenho de Nélson Xavier e as belíssimas locações cabo-verdianas são insuficientes para compensar a direção claudicante de Francisco Manso para um raro roteiro sem rigor de Mário Prata.
A boa nova foi a safra de curtas 35mm. A excessiva concentração de prêmios no apenas agradável "Decisão" faz injustiça à qualidade e variedade dos concorrentes.
Em resumo, Gramado-98 refunda-se ou devora-se. Simples assim.

O crítico Amir Labaki esteve em Gramado a convite da organização do festival

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