São Paulo, segunda-feira, 18 de agosto de 1997
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Veneza espelha magia e mistérios do céu

CARLA ARANHA SCHTRUK

em Veneza
"Por favor, eu queria comprar o Sol, quanto custa?"
Em qualquer lugar do mundo, a frase acima seria considerada um disparate, e seu autor, um completo lunático. E, se o interlocutor respondesse à pergunta, pior ainda: caso de hospício, certamente.
Mas estamos em Veneza, onde os diálogos mais absurdos são completamente plausíveis.
Lá, comprar sóis e estrelas -de cerâmica, vendidos em vários formatos e preços nas lojas do bairro São Marcos- é uma atividade tão habitual quanto tomar o "vaporetto", ônibus aquático, para se locomover pelos seus 150 canais.
O "vaporetto" é seu passaporte para esse mundo fantástico, habitado por nada menos que 400 palácios, de grande interesse artístico, e mais 400 pontes.
Seus olhos vão perceber rapidamente que é uma doce obrigação percorrer o Grande Canal, o principal da cidade, e observar o desfile de palácios góticos, renascentistas e barrocos.
Muitos abrigam museus, como o famoso Ca'd'Oro -antigamente coberto de ouro, daí o nome-, o Palazzo Grassi (hoje da Fiat), o Palazzo Rezzonico, o Ca'Pesaro e tantos outros.
Democracia
Mas, se essa não for sua praia, não se aflija: a democracia de que desfrutou Veneza no passado está presente na diversidade de atrações que oferece hoje ao turista.
Se não quiser dividir suas férias com artistas como Giovanni Bellini e Tiziano, bem representados nos museus, você pode simplesmente se postar por horas em um dos bares da praça São Marcos, com mesas ao ar livre.
É chique, é charmoso e... é caro. Sim, será a Coca-Cola mais cara de sua vida (US$ 10) -degustada em cafés históricos como o Quadri e o Florian-, mas vale a pena.
Bossa nova, trilhas famosas de filmes, clássicos conhecidos, tudo isso se reveza nos violinos, pianos e violoncelos das orquestras que disputam os clientes dos cafés.
E com a vantagem de que sua mesa estará provavelmente na frente de uma criação única da humanidade, a basílica de São Marcos, construída entre 1063 e 1073.
Na igreja está resumida toda a riqueza de que desfrutou Veneza até o século 17, quando começou a perder terreno para outras potências marítimas.
É também a prova mais contundente dos imensos benefícios artísticos que resultaram do contato intenso com o Oriente.
Preste atenção, principalmente, no teto decorado com mosaicos dos séculos 12 e 13 e no leão alado, símbolo da cidade, na fachada.
No interior da basílica, é imperdível a chamada Pala D'Oro, grande placa de ouro maciço e pedras preciosas feita em Constantinopla no ano de 976.
Quando começa a cair a noite, seu brilho se confunde com o dourado das quatro cúpulas da igreja, e você tem a impressão de que Sol, mar e a própria cidade estão se fundindo ao som das pequenas orquestras. Diga a verdade: podia ser melhor? (CARLA ARANHA SCHTRUK)

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