São Paulo, quarta-feira, 20 de agosto de 1997
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Para governo, Menem pega carona com EUA

DE BUENOS AIRES; DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O corpo diplomático brasileiro e os chefes das Forças Armadas, em Brasília, já têm uma avaliação sobre as declarações do presidente argentino, Carlos Menem, repudiando a candidatura do Brasil ao Conselho de Segurança da ONU.
Menem, segundo essa avaliação, está pegando uma carona na estratégia diplomática dos EUA de retaliação às derrotas nas negociações para a criação da Alca (Área de Livre Comércio das Américas).
Na outra ponta da estratégia, os EUA estariam tentando constranger os parceiros do Mercosul e minar as alianças com os países vizinhos -principalmente o Chile.
O corpo diplomático brasileiro em Buenos Aires esperava uma reação de Menem depois que os Estados Unidos declararam a Argentina, na semana passada, "aliado militar íntimo".
O anúncio serviu para manter tensão entre a Argentina e o Chile e desestabilizar uma das frentes de negociação do Mercosul.
Isso porque os EUA adotariam uma tática de "jogar" entre esses países: o governo norte-americano ofereceria o Nafta (mercado comum entre EUA, Canadá e México) ao Chile e o status de aliado militar preferencial à Argentina.
A idéia seria trocar a "resistência" de Menem à entrada do Chile no Nafta pelo agrado aos militares argentinos, que, desde a criação do Ministério da Defesa, vivem um descontentamento crescente.
Brasil O Brasil entraria nesse jogo via Conselho de Segurança da ONU. A resistência pública de Menem à pretensão brasileira serviria de argumento para os EUA lavarem as mãos na disputa e se contraporem à resistência do Itamaraty ao rodízio nos cargos e à falta do poder de veto. Por tabela, os EUA esperam também reduzir as resistências brasileiras à formação de uma zona de livre comércio em todo o continente (a Alca).
O Brasil liderou os países latinos nas reuniões de Belo Horizonte, em maio, e San José (Costa Rica), em julho, contra a pretensão norte-americana de priorizar a formação da Alca, em detrimento do fortalecimento do Mercosul. Mas, para a diplomacia brasileira, essa tática não dará certo porque:
1) o Brasil não estaria disposto a participar do jogo. Ou seja, não quer negociar sua aceitação no Conselho de Segurança da ONU oferecendo em troca um sinal verde para apressar a Alca;
2) o Brasil não aceita abrir mão do Mercosul em nenhuma circunstância, salvo as condições já acordadas em Miami a respeito da Alca (a partir do ano 2005).
Além do mais, Brasil e Argentina querem reduzir diversas barreiras comerciais dos EUA aos seus produtos antes de avançar nas negociações da Alca.
Na visão dos diplomatas brasileiros, o Brasil tem dois outros trunfos: uma perspectiva econômica mais favorável do que a da Argentina e uma história mais confiável.

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