São Paulo, quarta-feira, 20 de agosto de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Chile entra na polêmica e ataca EUA

CLÓVIS ROSSI
DO CONSELHO EDITORIAL

O Chile entrou ontem, com dureza, na polêmica entre Brasil e Argentina, provocada indiretamente pelos Estados Unidos, sobre a vaga latino-americana no Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas).
Para José Miguel Insulza, chanceler chileno, a escolha da Argentina para "aliado principal não-membro da Otan" dos EUA revela "desconhecimento e desconsideração" de parte dos EUA em relação ao que está ocorrendo na América Latina.
O que há de comum entre a escolha feita pelos EUA e a vaga no Conselho de Segurança da ONU? Tudo. Foi a partir de sua designação como aliado preferencial que o presidente argentino, Carlos Menem, sentiu-se autorizado a reivindicar para seu país a vaga nesse organismo que é o que realmente conta na ONU.
Por quê o Chile reagiu? Porque o privilégio que os EUA concederam à Argentina abre a possibilidade de compra de armamentos em condições mais favoráveis do que o Chile poderia obter.
Como os dois países mantêm antiga rivalidade estratégica e, além disso, pendências fronteiriças, a escolha de Washington só poderia alarmar os chilenos.
Por quê o Brasil, por sua vez, reagiu à afirmação de Menem? Porque, ainda no governo Itamar Franco, a chancelaria brasileira acertou com sua contraparte argentina que o tema Conselho de Segurança seria deixado à margem pelos dois países, para não azedar relações que ambos consideravam (e continuam considerando) essenciais.
A trégua foi mantida até Menem reivindicar, equivocadamente, a vaga para a Argentina. O equívoco foi reconhecido pelos próprios assessores internacionais do presidente argentino, em conversas com seus colegas brasileiros.
A posição oficial da Argentina nunca foi a de reivindicar a vaga no Conselho de Segurança da ONU, mas defender um rodízio entre ela e o Brasil (e, eventualmente, México), já que o pressuposto sempre foi o de que uma das novas vagas pertenceria à América Latina.
Depois da reação brasileira, Menem voltou à posição tradicional de seu país.
Hora de definir
O acerto era o de que nenhum dos dois países faria campanha aberta pela vaga até que se aproximasse a hora de definições sobre as mudanças no Conselho de Segurança.
O momento chegou. O grupo de trabalho que trata da reorganização da ONU propôs o aumento do número de membros do Conselho de Segurança dos 15 atuais para 24 -dos 9 novos membros, 5 seriam permanentes e 4 não-permanentes.
A diferença é essencial: só os membros permanentes têm direito a veto nesse organismo que é o coração do sistema internacional.
Hoje, são Estados Unidos, Rússia, China, Reino Unido e França, ou seja, os vencedores da 2ª Guerra Mundial (39/45).
Como já terminou a guerra quente e até a guerra fria, a composição do Conselho de Segurança tornou-se anacrônica.
A proposta foi apresentada por Ismail Razali (Malásia), presidente do grupo de trabalho, e será discutida na Assembléia Geral que começa no mês que vem.
Pressa
Razali sugere vagas permanentes para um país africano, um asiático, um da América Latina/Caribe e dois do mundo desenvolvido (na prática, reservadas de antemão para Japão e Alemanha).
É essa proposta que explica a pressa com que Menem reivindicou a vaga, ainda mais que o governo argentino se gaba de manter "relações carnais" com os Estados Unidos, o país que, por motivos óbvios, acaba sendo determinante na definição de quem serão seus parceiros no Conselho de Segurança.
Explica também a pronta reação do governo brasileiro.

Texto Anterior: Menem chora de barriga cheia
Próximo Texto: Encontro vai começar hoje
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.