São Paulo, quarta-feira, 20 de agosto de 1997
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PM vasculha arquivos de jornal em MG

DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE

Três oficiais da Polícia Militar de Minas Gerais vasculharam na tarde de ontem os arquivos fotográficos do jornal "O Tempo", de Belo Horizonte, em busca de fotografias que possam eventualmente identificar policiais militares que participaram das manifestações por melhores salários nos dias 13 e 14 de junho, na capital mineira.
A autorização para que a PM de Minas vasculhasse os arquivos foi dada pelo juiz-auditor da 3ª auditoria da Justiça Militar de Minas Gerais, Jadir Silva, por meio de mandado judicial.
A ordem do juiz era para que os negativos das fotos publicadas pelo jornal mineiro fossem entregues, bem como outras fotos que pudessem identificar os grevistas.
No mandado, o juiz ameaça com prisão em flagrante "quem oferecer resistência" ou "impedir o cumprimento".
Embora tenham vasculhado os arquivos e separado nove envelopes com cerca de 200 fotos, os oficiais não levaram nenhum negativo das fotografias.
O diretor de redação de "O Tempo" , Herval Braz, disse que o jornal se recusou a entregar as fotos em 7 de agosto, conforme ofício do major Antônio Alves de Castro, que ontem comandou os outros dois oficiais. Ontem, Braz se negou a assinar o mandado judicial, alegando que ele estava endereçado ao presidente da empresa, o deputado federal Vittório Medioli (PSDB), que estava em Brasília.
Braz disse que os oficiais ameaçaram de prisão o porteiro do prédio e entraram no laboratório, enquanto ele consultava o departamento jurídico e o Sindicato das Empresas de Jornais e Revistas de Minas. Ele recebeu orientação para não entregar nenhum material.
"Isso é um atentado à liberdade de imprensa e fere o direito de preservação da fonte jornalística", disse Braz. Para ele, "esse fato pode abrir precedente para que, quando outras categorias profissionais entrarem em greve, a Justiça requisite o arquivo dos jornais".
Segundo ele, o jornal colaborou com a PM enviando fotos sobre a manifestação de 13 de junho, que culminou com a morte de um cabo. "Nesse caso houve um crime e era preciso apurar, até para que inocentes não fossem considerados culpados. Agora, não", disse.
A direção informou que o jornal vai acatar as decisões judiciais, mas que vai recorrer à Justiça para impedir que isso aconteça.
A representante do Ministério Público na 3ª Auditoria da Justiça Militar, Maria Solange Ferreira de Morais, disse que o juiz-auditor tem a competência para expedir mandados judiciais, e que, portanto, a medida era legal.
A assessoria do governo mineiro informou que o governador Eduardo Azeredo (PSDB) não fala sobre assuntos da esfera judicial, cabendo os comentários à Justiça Militar. Segundo a assessoria, Azeredo foi informado pela PM, que disse ao governador "que não houve invasão, apenas o cumprimento de um mandado judicial".

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