São Paulo, quarta-feira, 20 de agosto de 1997
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Festival de curtas mira cultura negra

JOSÉ GERALDO COUTO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Começa amanhã, com uma sessão para convidados no Cinesesc, uma das mais concorridas maratonas culturais de São Paulo: o Festival Internacional de Curtas-Metragens.
Em sua oitava edição, o festival centra seu foco no cinema negro, com filmes realizados na África, Estados Unidos, Europa e Brasil. Serão exibidos curtas de cineastas africanos consagrados, como Osmane Sembéne e Idrissa Ouedraogo. O senegalês Mansour Sora Wade terá uma retrospectiva especial.
"Conhecemos pouquíssimo a África", disse à Folha a produtora Zita Carvalhosa, diretora do festival. "O curta-metragem é um bom jeito de fazer essa viagem."
Entre os curtas "negros" brasileiros programados estão "Couro de Gato" (62), de Joaquim Pedro de Andrade, e "Lima Barreto: Trajetória" (70), documentário de Julio Bressane sobre o escritor.
Também o cinema feito por mulheres terá destaque no festival. Um programa especial homenageia os 25 anos da organização norte-americana Women Make Movies.
Entre os seis filmes da organização programados estão o neozelandês "Descascar" ("Peel"), de Jane "O Piano" Campion, e o australiano "Lamentos Noturnos", de Tracey Maffatt, premiado no Festival de Tampere.
O cineasta alemão Matthias Müller, novo talento do cinema experimental, estará em São Paulo para apresentar uma retrospectiva de sua obra, que inclui o excepcional "Home Stories" (1990), colagem de cenas com atrizes de melodramas clássicos de Hollywood.
Outro programa especial homenageará a distribuidora alternativa japonesa Image Forum. Seu diretor, Takashi Nakajima, estará em São Paulo. Os filmes programados estão entre os mais radicalmente experimentais do acervo de mil títulos da distribuidora. Um programa será dedicado inteiramente ao cineasta Takashi Itoh, expoente da vanguarda experimental.
Até 30 de agosto, o 8º Festival Internacional de Curtas exibirá um total de 290 filmes de 50 países.
O circuito de salas ocupadas pelo festival é o mesmo do ano passado: MIS, Centro Cultural São Paulo, Cinesesc e sala 4 do Espaço Unibanco de Cinema. Com exceção dos brasileiros e latino-americanos, todos os filmes terão legendas eletrônicas.
Curtas brasileiros
Os curtas brasileiros estarão representados por 63 títulos realizados no último ano.
Entre eles estão os premiados no recente Festival de Gramado, como a comédia "Decisão", de Leila Hipólito, o drama "O Pulso", de José Pedro Goulart, e o documentário-homenagem "Nelson Sargento", de Estevão Ciavatta.
Será a oportunidade também de constatar como foi conservadora a premiação de Gramado, que ignorou os curtas experimentais "À Meia-Noite com Glauber", de Ivan Cardoso, e "Remanescências", de Carlos Adriano.
"Depois de ser o cinema de resistência nos dez anos de desmonte da produção nacional, o curta está mudando", diz Zita Carvalhosa. "Tem muito curta 'cartão de visita', com estrelas no elenco, finalização sofisticada. São cineastas se credenciando para fazer longas." Nesse contexto, a vocação experimental do curta fica em segundo plano.
O Multishow vai premiar dois dos curtas brasileiros do festival. O Espaço Unibanco, por sua vez, exibirá em seus cinemas de São Paulo, Rio, Belo Horizonte e Porto Alegre alguns dos curtas mais votados pelo público do evento.

LEIA MAIS sobre o Festival Internacional de Curtas à pág.4-3

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