São Paulo, quarta-feira, 20 de agosto de 1997
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TRECHOS

"Ney contou, anos depois, o que se passou em seu relacionamento com meu filho: "'Vi Cazuza pela primeira vez na praia. Pouco depois, ele apareceu na minha casa com uma amiga em comum. Era um apartamento de três andares e ela subiu para conversar comigo no quarto. (...) Quando resolvi acender um baseado, ela perguntou se podia chamar o Cazuza. Eu nem sabia que ele estava em casa! Então ele subiu (...)
Vivemos uma história durante meses. Foi um grande amor mesmo. Ele era encantador e apaixonante e, nessa fase, o extremo oposto do que o Brasil conheceu depois. Não tinha absolutamente nenhuma agressividade (...) E eu fiquei apaixonado de perder a direção. Passamos um fim-de-semana na casa de campo da família e, em seguida, Cazuza viajou para a Suíça. Quando voltou, comecei a perceber que ele estava com muito medo (...) De repente, ele desapareceu por alguns dias e, quando voltou, apareceu em companhia de uma figura estranha. Não gostei daquilo e tivemos uma discussão. Cazuza cuspiu em mim e o expulsei. Mas ficou para sempre uma relação muito bonita entre nós, para o resto da vida."'

"(...) Cazuza estabeleceu uma relação profunda com o ator Sérgio Dias, o Serginho (...) Serginho, Cazuza e Caetano Veloso, aliás, protagonizaram uma cena inesquecível no Baixo Leblon. Caetano é quem conta: "Serginho era um menino lindo, adorável. E eu mexia com ele, fazia um pouco a corte. Mas não foi por ciúme que aconteceu uma casual agressão física, porque, na verdade, o Serginho reagia com mais antipatia à essas minhas investidas do que Cazuza à minha tentativa de fazer amizade. Ele fechava a cara quando eu o elogiava. Aquela noite encontrei Serginho sentado numa mesa com outras pessoas, do lado de fora da Pizzaria Guanabara. Cazuza estava sentado sozinho em outra mesa. Pediu macarrão e, quando o maŒtre lhe serviu, Cazuza emborcou o prato na mesa, pegou a mochila e saiu (...) Seguiu pela Ataulfo de Paiva e, de repente, voltou. Eu estava conversando com o Serginho e o vi se aproximando pela rua. Quando chegou bem perto, levantou a mochila, em cujo interior havia uma garrafa de uísque, e levantou a mochila para bater com ela na cabeça de Serginho, que não percebeu o movimento. Puxei o Serginho pelo ombro e a mochila acabou batendo com tudo no meu dedo mindinho. O dedo inchou na hora, morri de dor, chorei de dor. Cazuza foi embora sem olhar para trás. Depois, conversamos sobre o episódio várias vezes e rimos bastante daquilo tudo. Ele dizia: esse dedo é uma merda mesmo! Não serve pra nada! Você toca violão mal para caralho, para que precisa desse dedo?"

"O show estava demorando muito a começar. Eu tinha levado uns baseados, a gente fumou e, além disso, Cazuza bebeu. Nunca tínhamos visto como ele se comportava de porre. E estava completamente descabelado e bêbado. Entrou no palco, abaixou as calças, colocou o microfone no pau. Foi aquela baixaria. Nada do que tínhamos combinado aconteceu. Naquele dia ele estava nervoso porque sua mão tinha ido assistir ao show. Ele tinha medo de parecer careta, morria de medo".

Extraído de "Cazuza - Só as Mães São Felizes", de Lucinha Araujo e Regina Echeverria

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