São Paulo, quarta-feira, 20 de agosto de 1997
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Andahazi fala de seu "Colombo sexual'

WILSON TOSTA
DA SUCURSAL DO RIO

"O Anatomista", romance construído pelo argentino Federico Andahazi, 33, em torno de Mateo Colombo, descobridor, durante o Renascimento, das funções do clitóris, já tem propostas para virar filme. A informação é do próprio escritor, em visita ao Brasil para divulgar seu livro, já lançado em português.
Andahazi -que acaba de fechar contrato para lançar o livro na China- diz que o escândalo em torno da obra na Argentina ficou restrito a Amália de Fortabat. Patrocinadora da Fundação Fortabat, cujo júri lhe concedeu um prêmio de US$ 15.000, ela se recusou a entregar o prêmio e chamou o livro de "obsceno e medíocre".
A seguir, os principais trechos da entrevista, concedida à Folha na Bienal do Livro.
*
Folha - Como surgiu a idéia de fazer o livro?
Andahazi - Sempre digo que a produção literária é um encontro entre a casualidade e a subjetividade. Nunca me propus a escrever essa novela. Eu estava trabalhando em uma história que se passava em Buenos Aires. Quando buscava bibliografia, me encontrei com Mateo Colombo. Encontrei-me com um personagem que já seria literário, um homônimo de Cristóvão (Colombo), que sai a navegar pelos mares da anatomia feminina. Foi esse encontro que me levou a escrever essa novela.
Folha - Como foi a pesquisa sobre o protagonista?
Andahazi - Na verdade, eu não quis fazer uma exaustiva investigação. Preferi a ficção à documentação. Com uma obra muito documentada, primeiro, corre-se o risco de aborrecer o leitor. Depois, corre-se o risco de ter um relato que não se quer contar. Por exemplo, na sucessão papal no Vaticano, há um papa, Marcelo 2º, que teve reinado muito breve, uns 20 dias. Decidi suprimi-lo. Então, não é uma novela histórica. Preferi construir meu próprio Colombo, pois não queria que a realidade terminasse mudando a minha história.
Folha - Seu romance foi cercado de grande polêmica na Argentina. No Brasil, não houve isso. Por quê?
Andahazi - Há uma diferença cultural grande. Creio que os brasileiros afortunadamente têm uma tradição sexual muito mais livre que os argentinos. Mas esse escândalo que se produziu na Argentina foi só com uma pessoa. Não foi um escândalo social. A sociedade recebeu muito bem o livro.
Folha - Em 98, o livro vai ser lançado nos EUA, onde há uma certa tradição puritana. O senhor espera alguma reação adversa?
Andahazi - Tenho uma certa expectativa com os EUA. Há propostas de filmar o livro. Há uma proposta de Milos Forman, uma de Hector Babenco e outra da produtora que Antonio Banderas tem com a mulher (a atriz Melanie Griffith). São as três mais sérias, há outras.
Folha - Por que muitas mulheres estão comprando o livro e dando de presente para seus maridos e namorados na Argentina?
Andahazi - É uma responsabilidade terrível. A novela não se propõe a ensinar nada novo sobre sexo, tampouco esse é o tema central do livro. Mas talvez alguma mulher ache que seu marido pode aprender algo na novela. Creio que esse livro tem a ver com os fantasmas que temos sobre as mulheres. Nesse sentido, é um livro sob a ótica masculina.
Folha - Como e quando o senhor escreve, já que continua a trabalhar como psicanalista?
Andahazi - Sou muito sistemático: todo dia, sempre à noite. Em Buenos Aires os bares são uma instituição. Escrevo à mão, em cadernos, num bar chamado Academia há 15 anos. Fico da meia-noite às 3h ou 4h no bar. No dia seguinte, passo para o computador.

Livro: O Anatomista
Lançamento: Ralume-Dumará
Quanto: R$ 18 (190 págs.)

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