São Paulo, quarta-feira, 20 de agosto de 1997 |
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Pogorelich se redime de frivolidades
ARTHUR NESTROVSKI
Pogorelich deu uma lição de integridade musical, interpretando os "Scherzi" de Chopin (1810-49) e os "Quadros de uma Exposição" de Mussorgski (1839-1881). É o mesmo Mussorgski que aparece agora nesse novo disco, recém-lançado pela Deutsche Grammophon, em companhia das "Valsa Nobres e Sentimentais" de Ravel (1875-1937). Há coisas que um disco jamais pode dar, comparado a uma performance ao vivo: a presença do pianista, a ressonância do espaço, a sensação do tempo, o sentido de irreversibilidade negado pela gravação. Mas, para certos músicos e certas músicas, há coisas também que só o disco pode trazer à luz. É o caso dos "Quadros de uma Exposição", que ele reinventa, aqui, com acentos do modernismo francês. Suspensões enormes das pausas, notas delicadíssimas que ecoam, vagarosamente, à distância, o som de uma música que parece estar vindo do lado de lá da memória: tudo isso, impossível de ser ouvido num teatro de verdade, ressoa como nunca no teatro imaginário dos fones de ouvido. O sentido de distanciamento e, ao mesmo tempo, a beleza bruta dos sons de Mussorgski -"um selvagem curioso, descobrindo a música passo a passo, através das emoções", como escreveu Debussy- recebem, nas mãos de Pogorelich, uma tradução exemplar. Os "Quadros" são melhor conhecidos na transcrição orquestral de Ravel. E o que Pogorelich faz, agora, é traduzir a versão original pianística para o idioma do compositor francês, ao que se misturam as nostalgias e anseios difusos do nosso próprio tempo. Nada mais natural, então, do que terminar o disco com as "Valsas Nobres e Sentimentais" de Ravel, sua homenagem ao mundo vienense que acabou. Disco: "Quadros de uma Exposição de Mussorgski e Valsas Nobres e Sentimentais de Ravel" Músico: Ivo Pogorelich Lançamento: Deutsche Grammophon Quanto: R$ 30 (em média) Texto Anterior: De britpop ao tecno Próximo Texto: Álbum promete ser clássico do futuro Índice |
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