São Paulo, quarta-feira, 20 de agosto de 1997
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Bônus indenizarão famílias de desaparecidos

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

A Argentina anunciou ontem que vai emitir US$ 3 bilhões em bônus para pagar compensações a familiares da chamada "guerra suja" -o combate a grupos de esquerda pelo regime militar que governou o país entre 1976 e 1983.
Cerca de 15 mil famílias vão ter direito a receber os bônus. Muitos parentes de vítimas, entretanto, não querem o dinheiro, pois argumentam que "a vida (dos seus parentes) não tem preço".
Segundo uma lei de 1994, cada família terá direito ao equivalente a US$ 200 mil. O fato de o governo emitir bônus não significa que cada família receberá a quantia definida -o título terá esse valor de face, mas nada garante que o mercado pague isso quando as famílias tentarem negociá-lo.
Analistas acreditam que famílias que esperarem alguns anos vão conseguir até um valor superior -ou seja, deve acontecer o mesmo que acontece com outros tipos de bônus colocados no mercado.
Antes de receber os bônus, no ano que vem, os parentes de vítimas vão ter de comprovar que seus parentes são de fato desaparecidos do regime militar. As autoridades acham que, por enquanto, só há 10 mil famílias em condições de recebê-los.
O governo não emitiu ainda nenhum documento oficial a respeito deles, nem informou qual o prazo em que ele será resgatável.
Reclamação
Apesar de as indenizações terem sido definidas por pressão de parentes de desaparecidos ou mortos, o mais importante grupo de direitos humanos da argentina, as Mães da Praça de Mayo, disse que não quer receber o dinheiro.
"Nos opomos a qualquer tipo de pagamento. A vida não tem preço", disse à agência "Reuter" María Gutman, que durante o regime militar perdeu um filho, então com 19 anos. "Não vamos aceitar. Seria desistir da luta", afirmou.
Não há estatísticas definitivas sobre quantas pessoas foram mortas pelos agentes do regime militar. Os relatos oficiais dão conta de 10 mil, mas grupos de ativistas dizem que são 30 mil.
Analistas financeiros dizem que ainda é muito cedo para julgar o impacto dos "bônus das vítimas" no mercado, mas alguns disseram que foi uma medida visando às próximas eleições -parlamentares neste ano, presidenciais em 1999.
Os novos títulos devem ser semelhantes àqueles emitidos no começo da década para pagar aposentados, quando governo não tinha dinheiro para arcar com as pensões.
Segundo o secretário da Fazenda, Pablo Guidotti, a nova emissão constará no Orçamento de 1998 e no novo acordo que será firmado com o Fundo Monetário Internacional (FMI).

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