São Paulo, quinta-feira, 21 de agosto de 1997
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Âncoras são para sempre, diz Franco

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente do Banco Central, Gustavo Franco, disse ontem em seu discurso de posse que "as chamadas âncoras -fiscal, monetária e cambial, especialmente- são permanentes". Ou seja, o governo manterá o real sobrevalorizado em relação do dólar e os juros altos.
Até então, a retórica oficial pregava que, conseguida a aprovação das reformas constitucionais, o controle da inflação não mais dependeria tanto das atuais taxas de câmbio e de juros, que trazem como efeito colateral o déficit comercial e a redução das possibilidades de crescimento econômico.
Mais tarde, Franco disse que as reformas poderão tornar as âncoras "menos pesadas".
A menção à âncora fiscal -o controle dos gastos do governo- não constava do texto redigido por Franco. Foi acrescentada de improviso no pronunciamento.
No mesmo trecho do discurso de nove páginas, Franco também substituiu a expressão "para sempre" por "permanentes".
O caráter permanente das âncoras, segundo Franco, é uma verdade muito importante do processo de estabilização -"nem sempre percebida", completou, mais uma vez de improviso.
Gustavo Loyola, que deixava o cargo, disse que "as viúvas do câmbio indexado não mais choram o seu desaparecimento ou, se choram, fazem-no envergonhadamente, às escondidas".
A frase de efeito omite que o câmbio está informalmente indexado -ou seja, corrigido conforme a inflação- desde março de 95, quando o governo mudou a política cambial para evitar um crescimento ainda maior do déficit comercial.
Malan seguiu o tom, comemorando o principal resultado das âncoras, a queda da inflação. "Já ganhamos essa aposta", disse, com a ressalva de sempre de que a estabilização não está concluída.
Enquanto Franco tomava posse, o mercado financeiro reagia a rumores de que na reunião de ontem à noite do Comitê de Política Monetária seria discutida proposta de desvalorização de 12%.
Embora a possibilidade de aprovação da idéia fosse descartada, muitas empresas preferiram não correr o risco e compraram dólar no mercado futuro, o que pressionou o câmbio e gerou nervosismo.

LEIA MAIS sobre a posse de Gustavo Franco nas págs. 2-4, 2-6 e 2-11

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