São Paulo, quinta-feira, 21 de agosto de 1997
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Encol desviou dinheiro, mostra auditoria

LUCIO VAZ
SHIRLEY EMERICK

LUCIO VAZ; SHIRLEY EMERICK
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Com a contabilidade descontrolada, construtora sonegava impostos e fazia uso de caixa-dois, diz relatório

Auditoria feita na Encol aponta evidências de sonegação de impostos, indícios de desvio de dinheiro, uso de caixa-dois e registro de prejuízo de R$ 380 milhões sem comprovação na construtora.
A Folha teve acesso ao relatório confidencial da auditoria Deloitte Touche Tohmatsu, encomendado pelos 38 bancos credores da construtora. O relatório, cuja versão final deverá ficar pronta em um mês, pode sofrer revisão.
A auditoria mostra que o sócio majoritário da Encol, Pedro Paulo de Souza, era procurador da empresa Wheycal Trading Corp., constituída nas Ilhas Virgens Britânicas, um paraíso fiscal.
Junto com dois ex-diretores da Encol S/A Engenharia, Comércio e Indústria, todos procuradores, Pedro Paulo tinha poderes para movimentar, "sem restrições", os ativos depositados na conta corrente da Wheycal no Swiss Bank Corporation em Lausanne, Suíça.
Na primeira investigação, os auditores não conseguiram saber o número da conta e as transações no banco e nas empresas, bem como o possível relacionamento direto com a Encol.
Em função disso, não puderam mensurar a implicação que os ativos ou passivos mantidos por essas empresas teriam sobre o patrimônio da Encol.
Nas Ilhas Virgens Britânicas, os auditores ainda investigam os indícios de que a Encol teria outras duas empresas: a Stick Construction Ltda. e a San Remo Engineering Ltda. Teriam ligações com os contratos de "empreendimentos na Nigéria" intermediados pela Encol.
A auditoria identificou também a existência de outras duas empresas no exterior que, para os auditores, podem ter sido usadas para desvio de dinheiro. Segundo o relatório da Tohmatsu, a "inadequação da escrituração comercial" dessas empresas pode caracterizar "omissão de receita".
As duas eram controladas pela Encol S/A, uma no Reino Unido e outra no Uruguai -a Encol International Limited e a Encol International S/A, respectivamente.
A Encol uruguaia, constituída em Montevidéu em 20 de abril de 1994, não foi registrada no balanço patrimonial da Encol S/A. A Encol Internacional Limited, constituída em 25 de fevereiro de 1982, constou como investimento na Encol S/A até 31 de dezembro de 1992, quando foi contabilmente extinta. Mas não há documentos comprovando o seu fim.
Até a data do encerramento do relatório parcial, não foram apresentados os documentos comprobatórios da liquidação da Encol International Limited, nem o retorno do capital investido e registrado no Banco Central do Brasil, aproximadamente US$ 4 milhões.
A auditoria mostra o descontrole na contabilidade da Encol. Um exemplo citado no relatório: o empréstimo da Encol feito a Francisco Flávio, irmão de Pedro Paulo, no valor de R$ 175 mil.
Segundo os auditores, a empresa não fez registro do empréstimo em contrato. Consta na contabilidade apenas como "adiantamento para futuro acerto".
Os auditores registram também um descontrole dos negócios imobiliários. As permutas de imóveis por terrenos estão mal contabilizadas, não há registro do valor do compromisso para a conclusão das unidades em permuta nem atualização do saldo a pagar.
O balanço de 96 ainda não está concluído, mas o prejuízo estimado é de R$ 700 milhões. A dívida ultrapassa R$ 800 milhões. O Banco do Brasil é o maior credor, com R$ 180 milhões a receber.
A estimativa dos auditores é que a Encol tenha patrimônio negativo de R$ 500 milhões.

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