São Paulo, quinta-feira, 21 de agosto de 1997
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País pode conviver com âncora, diz Franco

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A âncora cambial "permanente" não é incompatível com o desenvolvimento, segundo a agenda proposta ontem por Gustavo Franco, novo presidente do Banco Central. "A questão passa a ser a de que é possível, e como deve ser conduzido, o desenvolvimento na presença das âncoras."
Aqui, a tese é conhecida: o investimento privado será a origem do crescimento, e um dos desafios é o aperfeiçoamento do mercado de capitais, que reúne ações e outros títulos de empresas.
Toda a cerimônia de posse de Franco foi pontuada por declarações de apoio à política econômica hoje em curso. Também discursaram o ex-presidente do BC Gustavo Loyola e o ministro da Fazenda, Pedro Malan.
Esse apoio não é óbvio como parece. A indicação de Franco para o BC é interpretada, no próprio governo, como uma vitória do grupo de Malan sobre os setores que defendem uma política mais "desenvolvimentista".
Entre esses últimos costuma ser citado, por exemplo, o ministro das Comunicações, Sérgio Motta, que criticou publicamente a âncora cambial, conduzida por Franco na diretoria de Assuntos Internacionais, dias antes da troca de nomes no BC.
Preço da âncora
Âncora cambial é uma estratégia de controle da inflação a partir da sobrevalorização da moeda nacional. Muitas economias latino-americanas, em especial as do Brasil, Argentina e México, adotaram essa política.
No caso brasileiro, a partir de 1º de julho de 94 o Banco Central deixou de corrigir a cotação do dólar nos mesmo ritmo da inflação, como fazia antes.
Com isso, os produtos importados ficaram mais baratos e ajudam a conter a inflação. Mas há um preço a ser pago: muitos setores -o de calçados é um dos exemplos mais citados- têm dificuldades em enfrentar a concorrência estrangeira. O resultado, em muitos casos, é desemprego.
Além disso, o país passou a ter déficits comerciais, o que faz o país perder dólares.
Para compensar essa perda, o Banco Central é obrigado a manter os juros internos altos para atrair investidores externos que trazem dólares para o país, engordando as reservas externas. Mas juros altos significam crescimento menor.
Bandas
Embora descarte o fim da âncora cambial, Franco considera possível, ao menos em tese, uma mudança na administração da âncora.
Desde 95, vigora o regime de bandas, ou seja, limites mínimo e máximo para a cotação do dólar. Entre os dois limites, existe uma minibanda, com intervalo menor, no qual o BC deixa a cotação variar livremente no mercado, ou flutuar.
O BC corrige periodicamente a minibanda, para que o real se desvalorize em relação ao dólar, mantendo a competitividade dos produtos brasileiros.
O mercado especula que tal regime possa ser aperfeiçoado. Há quem defenda que seria mais adequado adotar a livre flutuação das cotações.
Em entrevista coletiva, Franco disse ontem que existe uma diferença sutil entre o sistema de bandas e a livre flutuação.
Por esse raciocínio, como o BC permite a flutuação na minibanda, a questão é saber qual é a ampliação possível para a minibanda. Essa possibilidade é limitada pelo risco de grandes oscilações do dólar, que devem ser evitadas.

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