São Paulo, quinta-feira, 21 de agosto de 1997
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Apolonio conta 60 anos de comunismo

HAROLDO CERAVOLO SEREZA
DA REDAÇÃO

Ladeado pelo crítico literário Antonio Candido e pelo historiador Jacob Gorender, a estrela vermelha da noite é o coronel de artilharia Apolonio de Carvalho, 85, que lança hoje, às 19h30, no Ática Shopping Cultural, sua autobiografia, "Vale a Pena Sonhar".
Nos anos 30, Apolonio militou na ANL (Aliança Nacional Libertadora), ingressou no PCB depois de passar pela prisão do governo Getúlio Vargas e lutou contra o fascismo de Franco na Espanha.
Durante a Segunda Guerra Mundial, se engajou na Resistência Francesa. Em 1968, fundou o PCBR (Partido Comunista Brasileiro Revolucionário) com Gorender. Hoje, é filiado ao PT, partido em que ocupou a vice-presidência.
O militante, que reafirma suas convicções comunistas e promete entrar no século 21 lutando pelo socialismo, foi enviado para a Espanha pelo partido, pondo em prática o internacionalismo que marcava sua família antes mesmo do seu nascimento (seu pai redigiu manifesto de cadetes brasileiros que, em 1890, se ofereceram para defender cidades chilenas de possível ataque britânico).
A Espanha era, na época, a principal trincheira da luta contra o fascismo. "Conquistar a Espanha para cercar a França" era a política nazi-fascista.
O autor afirma que a vitória do general não abalou suas convicções. Na França, inicialmente, os comunistas foram recebidos pelo governo de uma frente popular mais como um problema do que como aliados. Apolonio teve de fugir de um campo de refugiados para poder participar da Resistência Francesa à ocupação alemã, em que comandou ações militares nas regiões Sul e Sudeste.
"Era o mesmo inimigo, as mesmas bandeiras. O fim da Segunda Guerra foi minha primeira vitória política", avalia.
Com a vitória na França e o relativo sucesso eleitoral do PCB no Brasil, que elege parlamentares como o senador Luís Carlos Prestes e deputados como Carlos Marighella, Apolonio, com sua mulher Renée, volta ao Brasil e se torna presidente provisório da UJC (União da Juventude Comunista).
Em 1947, entretanto, o PCB é novamente declarado ilegal, e Apolonio volta à clandestinidade. Até 1964, com a deposição de João Goulart, seria assim, embora o partido tenha ganho progressiva liberdade a partir do governo Juscelino Kubitschek (1956-60).
A história continua, e o PCB já não responde às expectativas de parte da esquerda, que enfrenta com armas o regime militar. Apolonio, Gorender e Mário Alves (que seria morto no período) lideram a formação do PCBR.
Como outras organizações, o PCBR fracassa. Para Apolonio, entretanto, a opção pelas armas nesse período não foi o grande erro político da esquerda. O pior, acredita, foi e ainda é uma "ausência de uma visão clara da realidade e de seus movimentos, o que a leva a subestimar seus adversários e a sobrestimar suas próprias forças".

Livro: "Vale a Pena Sonhar"
Quanto: R$ 25 (284 págs.)
Debate: hoje, às 19h30, no Ática Shopping Cultural (av. Pedroso de Morais, 858, 3º andar), com Apolonio de Carvalho, Antonio Candido e Jacob Gorender

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