São Paulo, quinta-feira, 21 de agosto de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Com imagem de retrógrado, papa vai à França

MARTA AVANCINI
DE PARIS

Para 59% dos franceses, o papa João Paulo 2º é conservador e retrógrado. Este é um dos resultados de uma pesquisa publicada hoje, dia em que o papa chega a Paris, na revista "L'Événement du Jeudi".
João Paulo 2º vem à França para acompanhar as Jornadas Mundiais da Juventude. Ele fica no país até domingo, data de encerramento do evento. Hoje, o papa celebra missa no campo de Marte, junto à torre Eiffel.
Desde segunda-feira, cerca de 300 mil jovens de mais de 150 países estão participando de atividades religiosas e culturais que integram as Jornadas.
A pesquisa também revela que 54% dos entrevistados consideram ultrapassada a atitude da Igreja Católica em relação aos jovens.
Quanto ao uso do preservativo, 69% das pessoas ouvidas pensam que a Igreja dá respostas inadequadas a respeito do tema.
As opiniões reveladas pela pesquisa podem ser analisadas como um sinal do esvaziamento e da perda de influência da Igreja Católica na França. De acordo com estimativas da própria igreja, dos 54 milhões de franceses que dizem ser católicos, 6 milhões têm o hábito de ir à missa aos domingos.
O próprio papa admite o fato. "Eu sei que existe na França, como em outros lugares no Ocidente, uma redução da prática e das vocações religiosas. Mas isso deve ser vivido como uma purificação e, em certo sentido, como um estímulo", disse em entrevista ao jornal católico francês "La Croix".
Outro evidência do esvaziamento da igreja é a baixa adesão de jovens franceses às Jornadas -uma das explicações para a expectativa inicial de um público de 650 mil pessoas não ter sido atingida. Participam cerca de 100 mil franceses.
Se os franceses parecem não demonstrar muito entusiasmo em relação ao papa, os estrangeiros que estão acompanhando o evento vêem na presença de João Paulo 2º o fato mais significativo do evento.
Agenda polêmica
Além do esvaziamento da igreja, o papa João Paulo 2º poderá enfrentar polêmicas.
Sua assessoria anunciou que ele deve visitar, amanhã, o túmulo do geneticista Jerome Lejeune, morto em 1994 e que se tornou um verdadeiro herói dos grupos antiaborto. A visita foi entendida como um apoio indireto do papa à luta contra o aborto.
Ontem, cerca de 50 manifestantes antiaborto fizeram um protesto em Paris para demonstrar o que chamaram de "amor à vida".
A cobertura da visita feita pelas TVs também é alvo de protestos. Ontem, um grupo de entidades civis divulgou um manifesto em que pede tempo na TV equivalente ao total dedicado ao papa, cerca de 20 horas até domingo.

Texto Anterior: Israel proíbe TV anti-Irã
Próximo Texto: Agenda é 'descontraída'
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.