São Paulo, sexta-feira, 22 de agosto de 1997
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JUCA KFOURI

Não se sabe quanto custou o lobby feito pela CBF para retirar da pauta da Câmara dos Deputados a proposta de urgência da CPI do futebol.
Tenha, no entanto, custado pouco ou muito, não foi nada perto do que será feito para emperrar a discussão da chamada lei Pelé.
A Casa Bandida apenas mostrou suas unhas, porque as garras estão guardadas.
É curiosa a CBF. Diz nada temer, que suas contas são um livro aberto, mas joga pesado contra uma CPI que poderia comprovar se, de fato, quem não deve não teme. E anuncia que seu balanço apontará um prejuízo de R$ 1 milhão.
Muito estranho. Outra dia, mesmo João Havelange enaltecia a boa administração de seu ex-genro e agora ficamos sabendo que não é tão boa assim, apesar de explorar o "dream team" da Nike.
Ou será que esse prejuízo é daqueles fabricados, objeto da saudável curiosidade da Receita Federal?
A dúvida faz sentido, porque como a empresa de marketing esportivo que trabalha associada a CBF, a Traffic, é dona do Brasileiro, da Copa América, da intermediação do contrato com a Nike e outras negociações, nada impede que o vermelho de uma ponta seja o azul da outra, numa singela troca de bolsos.
Por outro lado, justo reconhecer, é legítimo que cada um brigue por suas posições e parece óbvio que a CBF tem sido muito mais competente do que, por exemplo, o ministério dos Esportes.
Se o ministro Pelé é a favor da CPI, por que não estava em Brasília pondo sua imagem a favor da aprovação?
Achar que política se faz só com boas intenções é de uma ingenuidade que ninguém com mais de 30 anos pode se dar ao luxo. A amostra dada anteontem, na Câmara, com a participação dos líderes partidários que apóiam o governo FHC, anuncia mau tempo para o projeto de Pelé.
Razão pela qual, vale insistir, talvez tivesse sido mais inteligente um esforço para fazer valer o que há de positivo na legislação atual e que, até agora, só não pegou por falta de vontade política e de fiscalização por parte do poder executivo -e por falta de escrúpulos da cartolagem.
Esta é, por sinal, a posição de Zico, uma voz lúcida e essencialmente a favor do que Pelé quer -além de cumprir um papel bem-vindo no verdadeiro Fla-Flu em que se transformou a discussão do projeto depois da bobajada dita por Havelange.

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