São Paulo, sexta-feira, 22 de agosto de 1997 |
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'Anaconda' repete clichês de catástrofe animal
RICARDO BONALUME NETO
Com "Anaconda", chegou a vez de um bicho brasileiro tentar fazer sucesso. Trata-se da maior serpente do planeta, mais conhecida aqui como sucuri. A sucuri que alguém pode encontrar na Amazônia ou no Instituto Butantan raramente vai passar dos sete ou oito metros de comprimento. Poderia no máximo comer uma criança. Depois da refeição, ficam "jiboiando", passando horas para digerir a presa. As jibóias são parentes das anacondas e matam pelo mesmo método, se enrolando, sufocando a presa e a engolindo inteira. A serpente do filme tem praticamente o triplo do tamanho de uma sucuri de verdade. Come -e digere- com uma rapidez espantosa. Move-se com uma velocidade de dar inveja às sucuris da vida real. E a monstra do filme não se limita a sufocar suas vítimas -também esmigalha seus ossos. Essa "brasilidad", completa com atores americanos ditos hispânicos e outros falando frases em português estropiado, é a única grande novidade do filme. O resto é o de praxe da série catástrofe animal, o que não impede que um espectador não possa se divertir, tentando adivinhar o que vai acontecer em um filme eminentemente previsível, pois "Anaconda" tem os dois clichês básicos desse tipo de filme. Um deles é a repetição de certas situações e de determinadas frases. O outro é a sequência de pessoas a serem devidamente ingeridas pela cobrona. Uma maneira de se divertir é tentar adivinhar a sequência das vítimas e dos clichês. Os personagens pertencem a uma equipe que vai fazer um documentário sobre uma tribo de índios que veneram serpentes. Quem vai ser comido primeiro? A bela documentarista brasileira? Seu namorado, o loiro pesquisador americano? O cameraman negro? O brasileiro com o improvável nome "Mateo"? E quem vai comentar o risco de se romper o equilíbrio ecológico? Quem vai ser seduzido pela idéia de capturar a cobrona como atração? Quando vai acontecer alguma nojeira adolescente envolvendo a saliva da cobra? "Anaconda" só escapou de dois chavões. Não existe a condenação da ciência como uma "aprendiz de feiticeira", talvez porque o cientista do filme está atrás de índios, e não de cobras. E, certamente porque foi filmado no Brasil, não existem as tiradas contra a queima da floresta pelos nativos. Filme: Anaconda Produção: EUA/Brasil, 1996 Direção: Luis Llosa Com: Eric Stoltz, Jennifer Lopez Quando: a partir de hoje, nos cines Astor, Eldorado 1 e circuito Texto Anterior: 'Mr. Bean' usa comicidade dos mal-entendidos Próximo Texto: Lopez emerge nos EUA Índice |
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