São Paulo, sexta-feira, 22 de agosto de 1997
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Ator Chico Diaz retorna às origens paraguaias

JOSÉ GERALDO COUTO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Um dos pontos altos de "Os Matadores" é o trabalho dos atores, e entre estes o de Chico Diaz, 37, no papel de um pistoleiro profissional paraguaio.
Para o ator, é uma volta à sua primeira língua, o espanhol. Filho de uma brasileira com um paraguaio que trabalhava como consultor de ciências agrícolas da OEA, Chico Diaz nasceu no México e passou a infância em países como a Costa Rica e o Peru. Só aos 10 anos radicou-se no Rio.
Em 16 anos de carreira, Diaz trabalhou em 35 filmes, entre longas e curtas brasileiros e estrangeiros.
Premiado em Gramado no ano passado com "Corisco e Dadá", o ator voltou este ano ao festival em dois filmes: o brasileiro "Os Matadores" e o cabo-verdense "O Testamento do Senhor Napumoceno", de Francisco Manso. Foi em Gramado que ele concedeu esta entrevista à Folha.
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Folha - Em "Os Matadores", você faz um paraguaio, em "O Testamento do Senhor Napumoceno", faz um cabo-verdiano. Qual a diferença de composição desses personagens?
Chico Diaz - Parti da diferença dos povos e de como o indivíduo reage a esse meio. No Cabo Verde, colônia portuguesa, há a mistura do português com o negro. No Paraguai, do espanhol com o índio.
Sem dúvida tenho mais proximidade com o paraguaio, pois meu pai é paraguaio.
Mas Cabo Verde é, como eles dizem, "um pedacinho do Brasil". As afinidades com a cultura brasileira são muitas. Parece a Bahia. Como meu personagem era meio farsesco, me senti à vontade para fazer aquele sotaque português, que para nós tem algo de cômico.
Folha - Fale sobre a direção de atores em "Os Matadores".
Diaz - O Beto Brant tem uma sensibilidade muito grande para o trabalho do ator. Foi uma surpresa para mim o modo como ele constrói o cotidiano num set.
Ele cria uma situação em que o ator se sente soberano, percebe que o drama é dele, realmente. Primeiro, há o espaço pleno do cenário. É a movimentação do ator que faz a câmera se mover. O Beto usa muito poucas palavras. Ele mostra, mostra, mostra. Foi o filme em que me senti mais componente da realização cinematográfica.
Folha - Você chegou a estudar arte dramática?
Diaz - Não. Estudei no processo. Sou intuitivo. Até lamento não ter estudado regularmente arte dramática. Embora eu estude muito, meu aprendizado foi no set.
Só nos últimos três ou quatro filmes que fiz -"Corisco e Dadá", "Baile Perfumado", "Os Matadores", "Testamento"- eu comecei a me sentir um ator maduro.
Por exemplo: para compor o Corisco, eu, que não sou nordestino, não pensei nos outros Coriscos do cinema. Tive de buscar algum correlato dentro de mim e foi na têmpera mexicana que fui encontrar. Isso está no meu imaginário.
Folha - Você não pensa em passar à direção?
Diaz - Penso. Tenho há anos um projeto de curta. É uma história peculiar e ilustrativa. Chama-se "O Artista", é um conto do russo Anton Ribakov.

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