São Paulo, sexta-feira, 22 de agosto de 1997
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Ritmo nasceu no Caribe e cresceu na Inglaterra

MARCELO NEGROMONTE
FREE-LANCE PARA A FOLHA

A história dos ska está diretamente ligado ao nascimento da indústria da música nos anos 50, quando a música norte-americana se disseminou no pós-guerra.
Jamaica, país localizado a cerca de 800 km ao sul de Miami, até então não recebia nenhuma influência da música dos EUA e o mento era ritmo popular no país.
Pelas ondas de rádios do sul dos EUA, os jamaicanos travam o primeiro contato com o R&B, jazz e boogie-woogie, ritmos totalmente desconhecidos dos jamaicanos.
Duke Ellington, Count Basie, Sarah Vaughan e Ray Charles tornam-se ídolos rapidamente.
No começo da década de 60, o ska aparece, resultado de uma mistura de mento, R&B e blues, criando um som completamente diferente do existente na Jamaica.
Resultado relativamente natural para um país com uma população predominante negra e musicalmente criativa.
Surge então a chamada "primeira onda" do ska, com nomes como Skatalites, Prince Buster, Laurel Aitken e Desmond Dekker, em meados dos 60. A temática do período eram letras que falavam basicamente da mulher amada.
O visual adotado pelas bandas era copiado das "big bands" norte-americanas de jazz, que se apresentavam com terno preto, gravata e chapéu. Nasce o rude boy.
Ele era o equivalente ao malandro carioca, ao boêmio paulistano: estava no limiar da marginalidade.
Concomitantemente aparece outro tipo ligado ao ska, agora entre a classe operária inglesa: o skinhead, que gostava da nova música trazida da Jamaica e raspava a cabeça.
Estamos agora no final dos 70, quando acontece uma grande migração dos jamaicanos para a ex-metrópole, Inglaterra.
Lá, como a maior parte dos imigrante, ficam relegados à classe operária a serviço da rainha.
O punk explode no país, como movimento contra a subserviência do povo em relação à monarquia. "Trabalhamos cada vez mais, geramos riqueza e continuamos na miséria" era o pensamento comum da plebe.
Uma batida rápida, influência do punk (The Clash, Sex Pistols), incorpora-se ao ska, criando o 2 tone (dois tons) e a "segunda onda".
Letras com teor político de esquerda, conscientização e união eram os motes de então. O 2 tone mantém o visual rude boy, simbolizando a união do preto e branco, jamaicanos e ingleses.
Os skinheads se dividem, surgindo os de extrema-direita, os neonazistas, que se desvirtuam do ska.
Madness, Specials e The Beat são os grandes nomes do ska 2 tone.
O movimento ska enfraquece, mas não desaparece até meados dos anos 80 e início desta década, quando o ska é fundido com o rock, hardcore, funk etc.
É a "terceira onda", que dura até hoje, com grupos como o norte-americano Mighty Mighty Bosstones, Toasters e MU330, entre vários outros, agora não apenas ingleses e jamaicanos, mas japoneses, suecos e, porque não, brasileiros.
(MN)

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