São Paulo, sexta-feira, 22 de agosto de 1997
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Megaexecutivo do fumo admite mortes

Geoffrey Bible depõe em julgamento

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

O principal executivo da maior indústria de tabaco dos EUA admitiu ontem, pela primeira vez em público, que "cerca de 100 mil pessoas podem ter morrido" devido a enfermidades provocadas em parte por cigarros produzidos pela sua empresa, a Philip Morris.
Geoffrey Bible, 60, fez a declaração durante as audiências preliminares do julgamento do processo que o Estado da Flórida (Costa Leste) move contra os produtores de cigarros do país. A Flórida está pedindo indenizações de US$ 12,3 bilhões pelo custo público de doenças provocadas pelo fumo. Outros 39 dos 50 Estados norte-americanos movem processos similares contra a indústria de fumo.
Até agora, os executivos das maiores empresas produtoras de cigarro, quando questionados em juízo, diziam não saber se o fumo pode provocar mortes. Apenas uma indústria, a Liggett, a menor do mercado, admitiu o contrário. Segundo autoridades médicas dos EUA, 450 mil pessoas morrem por ano no país devido ao fumo.
Bible, que fuma cigarros Marlboro e em 1996 recebeu US$ 3 milhões em salário e compensações, negou em seu depoimento que a Philip Morris tenha jamais manipulado a quantidade de nicotina em seus produtos com o objetivo de aumentar os índices de dependência física dos fumantes.
Mas admitiu que, "embora farmacologicamente o cigarro não produza dependência", ele "pode criar dependência comportamental". A Philip Morris tem 48% do mercado norte-americano de cigarros.
O Congresso dos EUA está examinando os termos de um acordo a que chegaram as indústrias de cigarro e os promotores públicos dos 40 Estados que as processam. O acordo livraria as empresas de futuros processos em troca de um fundo de US$ 368 bilhões para cuidar das vítimas do fumo. Os principais líderes da campanha antifumo nos EUA discordam dos termos do acordo. Eles acham a quantia da indenização pequena.

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