São Paulo, sábado, 23 de agosto de 1997
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Para PT, lançar Genro é estratégia de Lula

CARLOS EDUARDO ALVES
DA REPORTAGEM LOCAL

A disposição de Luiz Inácio Lula da Silva de não disputar a Presidência da República, antecipada ontem pela Folha na coluna do jornalista Janio de Freitas, foi recebida com desconfiança no PT.
A interpretação mais corrente no partido é que Lula sabe que é o único nome consensual no partido para concorrer contra Fernando Henrique Cardoso e que a indicação de Tarso Genro tende a jogar o PT em mais um capítulo da guerra interna, que Lula quer diminuir.
Há cerca de um ano, Lula vem alternando movimentos que sinalizam tanto a aceitação quanto a recusa da candidatura. Nos últimos dias, a aposta majoritária era para o sim ao confronto eleitoral com Fernando Henrique Cardoso.
"Para mim seria uma surpresa", disse Marco Aurélio Garcia, membro da Executiva petista e um dos amigos mais próximos de Lula, sobre o recuo de Lula.
A surpresa não foi tanta para alguns caciques petistas que não quiseram se identificar. Para eles, Lula quer provocar um movimento de "beija-mão" no partido, ou seja, mostrar que é a única alternativa partidária, até para para construir uma aliança com outros partidos, que não se mostram entusiasmados com a viabilidade eleitoral de Genro.
A teoria do "beija-mão" seria seguida de uma exigência para dar o tom da campanha, ou seja, não se submeter ao que Lula muitas vezes classifica como sectarismo do partido, principalmente na hora de discutir as alianças estaduais.
Garcia discordou da existência de manobra. "A carta branca vai ser dada pela política de alianças que vai ser aprovada pelo partido", avalia.
Opções
Lula tem demonstrado, nos últimos dias, particular insatisfação com o aumento da temperatura da luta interna entre as correntes do partido. O confronto tende a ser agravado se ele não for o candidato presidencial em 98.
Embora de peso praticamente inexistente na militância, o governador do Distrito Federal, Cristovam Buarque, já anunciou que, caso Lula saia do páreo, defenderá a realização de uma prévia para escolha do candidato e, até, que pretende disputá-la.
No bastidor da legenda, já se vislumbra também movimentação na mesma direção do senador paulista Eduardo Suplicy. Reside aí o temor da cúpula: jogar o partido em nova e desgastante disputa interna, com inevitáveis sequelas, para escolher quem enfrentará o favorito FHC.
Na conversas internas, José Dirceu (presidente do PT) tem insistido em que Lula só vai definir se entra ou não na disputa pelo Palácio do Planalto no final do ano.
O dado principal para a decisão, de acordo com Dirceu, vai começar a ser aferido na convenção nacional do PT, no próximo fim-de-semana. Se a política de alianças mais ampla for aprovada, como deseja Lula, o caminho para o sim será vitaminado.
A ala originária ou ainda pertencente ao sindicalismo, que tem um peso grande na máquina petista, pressiona Lula para aceitar a candidatura.
Junta-se aí a avaliação sobre a maior chance eleitoral de Lula com um não-confessado temor de perder o controle da legenda caso exista uma "oxigenação" na liderança, o que seria personificado com uma possível candidatura de Genro.
"É hora de o partido ter tranquilidade e insistir, antes do nosso nome, que a esquerda deve ter uma candidatura própria", declarou o deputado federal José Genoino (SP).
A interlocução com os partidos de esquerda é outro problema para qualquer outro petista, fora Lula, que tente aliança para 98.
Nas conversas com os outros partidos, os petistas já sentiram que, se não existe mais tanto entusiasmo com Lula, a situação é pior quando se cogita em Genro como alternativa presidencial para uma coligação.
Os tradicionais aliados do PT (PC do B e PSB) e outros possíveis, como o PDT, querem um nome forte para encabeçar a chapa e não enxergam no ex-prefeito de Porto Alegre potencial para empurrar a aliança para cima.

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