São Paulo, sábado, 23 de agosto de 1997
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Mutuários da Encol terão apoio

SERGIO PORTO

Qualquer que seja a solução para o impasse da Encol, de uma coisa podem estar certas as 42 mil famílias em todo o Brasil que vêem ameaçado o acalentado sonho da casa própria: a construção civil está pronta para viabilizar a entrega dos apartamentos prometidos.
A idéia é evitar, de qualquer maneira, que o impasse resulte no não-atendimento das 42 mil famílias prejudicadas.
É perfeitamente possível assegurar a montagem de "pools" de construtoras para concluir as obras dos prédios de apartamentos, muitos deles em estágio avançado de edificação. Alguns grupos de mutuários já estão se antecipando e mantendo entendimentos com construtoras nesse sentido.
A participação da construção civil poderia se dar mediante articulação, por exemplo, dos sindicatos estaduais da construção civil (Sinduscons) com instituições financeiras como a Caixa Econômica Federal e os bancos estaduais.
Além disso, o fato de um grupo expressivo de bancos estar interessado em financiar a conclusão das obras mostra que existe interesse social articulado com a possibilidade de proporcionar uma remuneração condizente ao capital. Mais uma razão para os mutuários terem esperança.
Todo esse episódio encerra algumas lições. A primeira é que o desfecho do caso Encol pede uma solução de mercado -e jamais um paternalismo injustificável. A construção civil somente ficará ainda mais fortalecida se prevalecerem as regras do mercado.
Soluções artificiais como as que, no passado, resultaram no formidável rombo do FCVS (Fundo de Compensação de Variações Salariais) só prejudicam o próprio setor. Deixam o segmento financeiro desconfortável para aumentar os financiamentos à produção de imóveis. E, assim, acabam dificultando a oferta de moradias. Desse jeito, no Brasil não vai terminar nunca o déficit habitacional, hoje estimado em 5,1 milhões de residências.
A segunda lição é a de que o maior não é necessariamente o melhor. A assertiva, que já havia se comprovado correta em outras áreas da atividade econômica, como a informática, agora chega finalmente à construção civil.
A terceira lição é a de que a atividade construtiva, pelo seu caráter de prestação de serviços, é eminentemente regional. Tentar transformar uma experiência local de edificação de apartamentos em um modelo nacional só poderia ter resultado nos problemas que ocorreram.
Por último, é preciso questionar a falta de limites do financiamento concedido sobretudo por instituições públicas para essa e qualquer outra atividade produtiva.
Somente da parte de Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e Banespa foram enterrados R$ 290 milhões na Encol. Enquanto isso, a situação financeira dos ex-diretores da empresa é invejável. Portanto, a concessão de financiamentos com recursos públicos precisa ter limites rígidos, para evitar a repetição desse episódio.
Para esse e outros males, não há melhor solução que a do mercado.

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