São Paulo, sábado, 23 de agosto de 1997
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Coletânea resgata livro como objeto de arte

ARMANDO ANTENORE
DA REPORTAGEM LOCAL

O texto literário, ninguém discute, é uma manifestação artística. Mas e o livro -o objeto, conjunto de papel e tinta- merece hoje o status de arte?
O advogado e bibliófilo paulistano José Mindlin, 82, defende que sim. E dá a prova às 18h da próxima quarta-feira, quando promove o lançamento de "O Encantador de Palavras" no Museu Histórico do Rio.
Raros leitores puderam folhear um livro assim. São 131 páginas, em papel nobre, rugoso, puxando para o bege e com formato graúdo: 25 centímetros de largura por 33 centímetros de altura.
O inusitado volume, impresso à moda das serigrafias, exibe projeto gráfico de Diana Mindlin e abriga poemas do mato-grossense Manoel de Barros, ilustrados pelo artista plástico goiano Siron Franco.
Nenhum dos versos é inédito. O poeta do Pantanal os publicou originalmente em "Gramática Expositiva do Chão", "Livro das Ignorãças", "Concerto a Céu Aberto para Solos de Aves" e "Livro sobre Nada".
Reedita-os agora por iniciativa dos 150 "degustadores de literatura" que compõem a Sociedade de Bibliófilos do Brasil.
A instituição, que José Mindlin preside, tem sede no Rio. Com a coletânea de Barros, busca resgatar o conceito de que um livro, como os quadros, pode oferecer satisfação estética a quem simplesmente o observa.
No dizer de Mindlin, "O Encantador de Palavras" desperta, primeiro, o gozo do olhar e do toque; depois, o da leitura.
É, no entanto, um prazer para poucos. A antologia -com tiragem limitadíssima de 165 exemplares, todos numerados- não estará à venda em livrarias.
Só circulará entre os integrantes da sociedade, que terão de adquiri-la pelo preço de custo: R$ 300.
O próprio Mindlin bancou a edição em parceria com outros bibliófilos, como o pintor gaúcho Carlos Scliar.
O grupo pretende produzir um livro por ano, preferencialmente de artistas brasileiros contemporâneos. Assim que lançar "O Encantador de Palavras", vai definir o que publicará em 1998.
"Há quem aprecie vinhos e charutos. Nós, malucos, saboreamos livros", diz Mindlin, proprietário de uma das maiores bibliotecas do país, formada por cerca de 25 mil títulos.
A edição da coletânea segue uma tradição antiquíssima, que remonta à Idade Média e que, no Brasil, contou com o impulso da Sociedade dos Cem Bibliófilos, já extinta.
Entre 1947 e 1973, a agremiação presidida pelo industrial Raymundo de Castro Maya imprimiu 23 livros nos moldes de "O Encantador de Palavras".
Relançou, por exemplo, um clássico de Machado de Assis, "Memórias Póstumas de Brás Cubas", com desenhos de Cândido Portinari e tiragem de apenas 120 cópias.
Muito disputada pelos colecionadores, cada uma das 23 publicações alcança hoje preços que oscilam entre R$ 300 e R$ 3.000, dependendo do título e do ilustrador.

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