São Paulo, sábado, 23 de agosto de 1997
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GESTÃO LOYOLA

É comum dizer que o funcionalismo público é pouco produtivo e defende muitas vezes interesses meramente corporativos. As passagens de Gustavo Loyola pela presidência do Banco Central do Brasil mostram que há exceções.
Sabe-se que o BC abrigou, desde o seu surgimento, várias gerações de técnicos competentes. Loyola faz parte dessa tradição tecnoburocrática brasileira.
Quis o destino, aliás, que esse técnico dotado de paciência e até de uma certa imunidade emocional diante das crises que marcaram sua geração acabasse presidente do BC numa das mais graves crises bancárias da história brasileira.
A condição de tecnocrata, de outro lado, talvez explique um pouco a passividade do BC diante de escândalos ainda por apurar adequadamente, como o do Banco Nacional.
Sabe-se que o BC é uma das instituições públicas mais visadas pelos lobbies políticos e financeiros. No confronto entre conceitos técnicos e pressões externas, a independência do BC muitas vezes foi sacrificada.
Mesmo assim, o perfil tecnocrático de Loyola não impediu que ele assumisse atitudes políticas. Presidente do BC no governo Itamar Franco, demitiu-se quando constatou sua incompatibilidade com o presidente da República.
Já episódios delicados, ocorridos na sua segunda gestão à frente do BC, caso da "pasta cor-de-rosa" ou da revelação de problemas com precatórios às vésperas das eleições municipais, foram bastante controversos. Ao mesmo tempo, Loyola foi sobretudo técnico ao resistir às pressões pelo resgate do Econômico.
Loyola deve ser reconhecido, no balanço de seus méritos como técnico e de suas incursões pela política, como um dos raros funcionários públicos que assumiram um alto cargo como quem recebe uma missão.

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