São Paulo, domingo, 24 de agosto de 1997
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Checar 'ficha' de construtora reduz risco

GABRIEL J. DE CARVALHO
DA REDAÇÃO

O risco de uma construtora deixar na mão compradores de imóveis "na planta" sempre existe, mas, no mercado imobiliário, poucos acreditam na reedição de um caso como o da Encol.
Para esta empresa, vale a máxima de que "quanto maior, maior o tombo". É também seu gigantismo que vem dificultando uma saída para a crise. Tanto assim que mesmo um acordo entre os bancos credores não permitiu a retomada das obras.
Para se precaver contra eventual quebra de construtora/incorporadora, o candidato à compra de um apartamento "na planta" deve, em primeiro lugar, conhecer a performance anterior da empresa, recomenda o consultor Luiz Álvaro de Oliveira Ribeiro, da Adviser.
O comprador também deve conferir se o empreendimento tem financiamento garantido, diz ele.
Tanto Ribeiro quanto Orlando de Almeida Filho, presidente da Triumpho Associados Consultoria de Imóveis, concordam que empreendimentos imobiliários que têm por trás um banco financiando traz mais segurança.
"A garantia é quase total", afirma Almeida Filho. "A Encol foi exceção", acrescenta.
"Quando há financiamento bancário o risco é menor porque o banco investiga a capacidade da construtora, faz o acompanhamento das obras com engenheiros e vai liberando os recursos de acordo com o cumprimento do cronograma", explica ele.
Almeida Filho aconselha compradores de imóveis que visitam um plantão de vendas a pedir ao corretor a pasta com o currículo da construtora. Assim, fica sabendo qual é a empresa, o que construiu, quanto tem de metros quadrados construídos e assim por diante.
"Se já tem, por exemplo, 50 prédios construídos, visite pelo menos 2 deles, mais novos, fale com o zelador ou com moradores, e procure informações sobre a obra. É como uma empresa que vai contratar um profissional qualquer e precisa checar seu currículo", compara o empresário.
Novo sistema
Almeida Filho e Oliveira Ribeiro também concordam que a aprovação no Congresso do SFI (Sistema Financeiro Imobiliário) será um avanço no setor -apesar de a crise da Encol ter razões específicas.
A tendência, com o SFI, será uma oferta maior de imóveis, ampliando as opções do comprador.
Nos últimos anos, o mercado ficou meio travado porque os bancos, com a crise do SFH, se retraíram. Só agora estão voltando. Novos lançamentos passaram a depender das próprias construtoras.
Os recursos para a habitação vêm da caderneta de poupança, que tem prazo de 30 dias, e destinam-se a empréstimos de 10, 15 anos. Esse descompasso colaborou para o travamento. "Não fecha a conta", observa Ribeiro.
Na opinião dele, a figura jurídica da fidúcia que será introduzida pelo SFI dará mais garantia aos investimentos imobiliários e trará mais dinheiro para o setor.
Com a fidúcia, o imóvel ficará alienado até o pagamento da última prestação, como ocorre hoje no financiamento de carro. Em caso de inadimplência, a retomada do imóvel será mais fácil. Hoje, a execução é difícil e morosa.
O SFI também deverá institucionalizar a securitização de recebíveis imobiliários.
Uma construtora que constrói um prédio, por exemplo, em vez de ficar com notas promissórias paradas no caixa, poderá vendê-las com desconto e, com o dinheiro, tocar novas obras.
Ribeiro só faz a ressalva de que, para o novo sistema vingar, os juros embutidos no desconto terão de baixar. Com 18% e 20% ao ano (mais TR) não dá, afirma ele.
Almeida Filho prevê que, no início, o SFI será elitista, atraindo recursos de fundos de pensão. Com o tempo, acredita, o mercado se expandirá. Quem hoje aplica num CDB poderá, no futuro, estar aplicando num título ou fundo imobiliário, diz ele.
A partida, afirma o empresário, foi bem dada com a criação da Cibrasec (Companhia Brasileira de Securitização), com capital inicial de R$ 60 milhões.

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