São Paulo, domingo, 24 de agosto de 1997
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Uma separação e duas versões

"Pensava em separação todos os dias, mas sempre achei que o casamento ainda poderia melhorar. Essa época não foi um purgatório, foi um inferno. São duas personalidades que começam a se apresentar de maneiras diferentes. Partilhar é sempre bom, dividir, não. Quando você separa, você divide. Tudo passa a ter um valor diferente. Até paliteiro passa a ter valor.
O dia da separação é sempre o mais difícil, porque passa a ser uma verdade inexorável. Enquanto você está conjecturando, está apenas no campo das idéias. Mas, quando está na frente de um juiz, não tem mais volta.
Não gosto de lembrar da separação. É uma recordação triste, são momentos difíceis, que exigem uma estrutura legal e muita personalidade para superar. Não desejaria para ninguém.
Tudo que você sempre sonhou, a família está em jogo. Quando você casa, tem um sonho, vê um mundo colorido. Quando casei, tinha uma vida com padrão acima da média, era gerente de vendas de uma multinacional. Depois, fiquei desempregado, o mundo desabou na minha frente.
Partimos para uma solução alternativa, tentei mudar de ramo, montar outros negócios. Mas os problemas se avolumaram, as coisas não aconteceram do jeito que a gente havia planejado. Mesmo assim, acreditava no casamento e amava minha mulher, apesar de ambos termos uma série de erros.
Eu era experiente no que fazia e inexperiente para enfrentar o mundo. Pequei no sentido de achar que tudo iria acontecer do jeito que eu pensava.
A causa principal da separação foi o fator financeiro. Sem estabilidade, você arruina a sua família. 'Um amor e uma cabana' só existe em contos de fadas. Além do fator financeiro, cada casal define o que pode levar à separação: a falta de respeito, a perda da confiança... tudo isso conta.
Depois da separação, fiquei mais desconfiado, porque acumulei experiências. Quando alguém se apresenta, você automaticamente faz um raio-x dela, desconfia antes.
Hoje, trabalho de segunda a segunda porque só penso em dar o melhor para os meus filhos -são cinco, três em comum e dois do meu primeiro casamento- e orientá-los para o futuro. Quando um casal se separa, a presença dos pais é fundamental para os filhos, é importante estar ali no dia-a-dia.
Eu e Regina vivemos uma situação atípica: somos vizinhos. Morávamos em dois sobrados, que transformamos em um só. Com a separação, cada um ficou com um sobrado. Apesar de vivermos um ao lado do outro, é muito complicado e difícil. É um relacionamento amistoso, mas não temos uma convivência pacífica."

(Adgard Pereira Gontijo, 41, empresário, cinco filhos, casado por 14 anos e separado no ano passado de Regina Célia da Silva Gontijo, 35)

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