São Paulo, segunda-feira, 25 de agosto de 1997
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Evangélicos ameaçam hegemonia católica

JOSÉ ERNESTO CREDENDIO
EDMILSON ZANETTI

JOSÉ ERNESTO CREDENDIO; EDMILSON ZANETTI
DA AGÊNCIA FOLHA, EM TEODORO SAMPAIO (SP)

MST estima que cerca de 30% de seus integrantes no Pontal do Paranapanema são evangélicos

O avanço de evangélicos nos assentamentos e acampamentos de sem-terra no Pontal do Paranapanema (extermo oeste do Estado de São Paulo) ameaça a hegemonia católica no MST, movimento originário da CPT (Comissão Pastoral da Terra).
O berço político de alguns dos principais líderes do MST (Movimento Nacional dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), como José Rainha Júnior e Diolinda Alves de Souza, foram as CEBs (Comunidades Eclesiais de Base), entidades de inspiração católica.
Pesquisa realizada pelo Datafolha em maio do ano passado, em um universo de 150 entrevistados dos acampamentos Taquaruçu, em Sandovalina, e Santa Rita, em Mirante do Paranapanema, indica que 9% eram evangélicos pentecostais, e 1%, históricos.
Atualmente, o MST estima que 30% dos militantes do movimento sejam evangélicos, um quadro bem diferente do registrado no início da década de 90.
Em 1991, dos 118 sem-terra que invadiram a fazenda São Bento, em Sandovalina, 9 eram evangélicos, que acabaram abandonando o MST por pressões dos pastores.
Ação
Na tarde do domingo retrasado, três trabalhadores rurais integrantes da Assembléia de Deus protagonizaram uma ação audaciosa -entraram na fazenda São Domingos, em Sandovalina, onde a UDR (União Democrática Ruralista) reunia sua ala mais radical.
Os três, argumentando que haviam se enganado, foram agredidos e expulsos do local.
Horas depois, o MST invadiu a fazenda Maturi 1, em Caiuá. A operação dos sem-terra foi comandada pelos evangélicos José Paulo dos Reis, o "Paulinho Crente", e Marivaldo Rodrigues Frederick, conhecido por "pastor" (leia entrevista ao lado).
Assustada com a concorrência, a Igreja Católica começa a reagir e programa um encontro para formar doutrinadores que vão atuar nos acampamentos dos sem-terra.
"Abandonado"
Antonio Garcia, 30, membro do acampamento de Santa Rita, conta que há dois meses deixou o catolicismo por se sentir "abandonado" pela igreja. Atualmente, Garcia integra a Assembléia de Deus.
Afirmando-se socialista, ele se converteu em um dos cultos que a Assembléia de Deus realiza duas vezes por semana no local.
"Quando cheguei aqui, há um ano, não tinha um 'irmão'. Agora, em todas as famílias há evangélicos", afirma o sem-terra Paulo Moura da Cruz, 39, um dos organizadores das celebrações.
O hoje assentado Rosinei Oliveira Santos, 36, adventista, diz ter perdido a conta das vezes que participou de invasões. Santos só se recusa a pegar em armas.
Na última tentativa de invasão da fazenda São Domingos, em fevereiro passado, quando seis sem-terra saíram feridos a bala, o assentado conta que rezou muito.
"Pela palavra de Deus a gente não pode pegar em armas, mas, fugir da luta, a gente não foge"

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