São Paulo, terça-feira, 26 de agosto de 1997
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Condenado último presidente da RDA

RODRIGO ONIAS
ESPECIAL PARA A FOLHA, DE BERLIM

O último chefe de Estado da extinta República Democrática Alemã (RDA, comunista), Egon Krenz, 60, foi condenado ontem a seis anos e meio de prisão. Foi a primeira condenação de um tribunal alemão a um antigo chefe de Estado do país.
Krenz foi condenado por quatro mortes ocorridas durante fugas no Muro de Berlim, entre 1984 e 1989. As fugas ocorreram quando o ex-chefe de Estado era o responsável pela Segurança no Politburo, o órgão máximo de poder do partido comunista. Segundo o veredicto, os soldados da Alemanha Oriental atiraram contra as vítimas por "uma ordem ideológica", determinada pelo Politburo.
Outras condenações
Por três das mortes, foram condenados a três anos de prisão outros ex-integrantes do Politburo, Günter Schabowski e Günther Kleiber. Os três condenados teriam, de acordo com o juiz Joseph Hoch, "preferido a morte de cidadãos desarmados do próprio país a permitir fugas de sucesso".
A defesa, que havia pedido a absolvição dos acusados, promete pedir revisão do julgamento. A promotoria, que havia requisitado penas de 7,5 anos e 11 anos, também disse que estuda recorrer.
O tribunal aliviou as penas porque os réus "participaram da transição pacífica do regime".
Krenz foi preso imediatamente após o julgamento, durante o qual acusou o tribunal de estar fazendo a "justiça do vencedor", uma suposta perseguição do Ocidente em relação a ex-líderes comunistas. "Eu não me curvo", afirmou Krenz após a sentença.
Último líder
Krenz ficou conhecido como uma "cria" de Erich Honecker, o anterior chefe de Estado da desaparecida Alemanha Oriental. O ex-líder da Juventude Livre Alemã (grupo pró-comunista) assumiu o lugar de seu "padrinho" três semanas antes da queda do Muro, em 1989. Em janeiro do ano seguinte, foi expulso do SED, o partido comunista alemão oriental.
A condenação foi saudada por todos os partidos alemães, exceto pelo PDS (Partido do Socialismo Democrático, sigla em alemão), sucessor do SED, que considerou o julgamento "uma farsa".
O último presidente da União Soviética, Mikhail Gorbatchov, também criticou o julgamento. Disse não haver "motivos legais ou morais" para a condenação.
Segundo o juiz-presidente do tribunal, o argumento de que as leis não são retroativas não tem valor quando é ferido o direito à vida.
Com a condenação de ontem, já são 58 os condenados por mortes causadas pelo regime comunista.
O caso de ontem tinha mais implicados, que não chegaram a receber a sentença. Um deles morreu e outros dois foram considerados incapazes de continuar no julgamento por motivo de saúde. O processo durou mais de um ano e meio e consumiu 1.600 páginas.

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