São Paulo, quarta-feira, 27 de agosto de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Escassez e excesso

JANIO DE FREITAS

Os dois Estados onde os empresários mais dão dinheiro aos políticos com eles afinados são, muito acima dos demais, São Paulo e Bahia.
Na discussão sobre a nova lei eleitoral, a resistência à moralização das eleições, pela proibição de doações a candidatos, foi montada com o PSDB e o PFL por iniciativa dos políticos paulistas e baianos do esquema governista.
O motivo da recusa ao financiamento das campanhas com verba pública, rateada proporcionalmente entre os partidos, nada tem a ver com o custo de R$ 700 milhões, ridículos em comparação com tantos esbanjamentos muito maiores do governo, entre os quais os seus indecentes gastos com publicidade.
O líder do governo, Luís Eduardo Magalhães, chega a invocar a inexistência da verba específica de R$ 700 milhões no Orçamento de 98. Mas nem existe ainda o Orçamento de 98. Por ora é apenas uma proposta inacabada do governo, a ser encaminhada ao Congresso, aí submetida a apreciação "técnica" e aberta a alterações de todos os tipos pelos parlamentares.
Os paulistas do PSDB e os baianos do PFL não se moveram por causa da escassez de dinheiro oficial, mas pelos excessos do dinheiro privado.
Compra e venda
Perplexo, omisso e deslumbrado, o ministro Carlos Albuquerque, da Saúde, afinal usa o seu cargo para prestar um serviço à sociedade. Fernando Henrique Cardoso tem dito que não há nomeações por interesse político, mas Carlos Albuquerque proporciona comprovações em contrário.
Os 25 médicos-chefes do Hospital de Bonsucesso, um dos maiores do Rio, estão entregando seus cargos em protesto contra a interferência da política na administração do hospital, entregue por Carlos Albuquerque a um protegido do deputado Lima Netto. A nomeação foi feita de acordo com o Gabinete Civil do Planalto, em vista da posição crítica que Lima Netto vinha assumindo, embora pefelista.
De grande relevância, também, no conjunto hospitalar do Rio, o Hospital da Lagoa é outro com o corpo médico em ebulição, porque vitimado pelo compra-e-vende do governo. Carlos Albuquerque decidiu entregar o hospital à Uni-Rio, em submissão ao "lobby" político dessa universidade. A ser repassado, porém, o Hospital da Lagoa só poderia sê-lo para o SUS, de acordo com a legislação municipalizante da Saúde. Além disso, a Uni-Rio já controla um hospital e o faz com a demonstração de como um hospital importante, outrora exemplar, pode ser levado a péssimo estado.
Paulo Renato de Souza, o economista-ministro da Educação, não está sozinho. Nem está sozinho, na recusa a submissões aos "lobbies" políticos, o filósofo governista José Arthur Giannotti, agora ex-membro do Conselho Nacional de Educação (já substituído pelo próprio ministro, ou seja, pela professora Eunice Durham, que tem o cargo nominalmente modesto, em relação às suas reais funções, de secretária de Política Educacional do ministério).
Carlos Albuquerque foi a indicação de Paulo Renato que animou Fernando Henrique a tornar inviável, de vez, a persistência de Adib Jatene na busca de recursos e reformulações para a Saúde.

Texto Anterior: Tesouro vai lançar novos títulos da dívida federal
Próximo Texto: Lerner anuncia novo partido só no dia 1º
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.