São Paulo, quarta-feira, 27 de agosto de 1997
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Assassinos de rodas

GILBERTO DIMENSTEIN

É como se três vezes por semana caísse um Boeing lotado de passageiros no Brasil.
Um dossiê montado na Presidência da República a partir de dados do Departamento Nacional de Trânsito, SUS e Polícia Rodoviária revela um massacre nas ruas e estradas.
Foram 750 mil acidentes no ano passado. Além das 36.503 mortes, 323 mil pessoas saíram feridas -193 mil delas com alguma lesão permanente.
A imensa maioria das vítimas tem entre 18 e 34 anos, auge do período produtivo.
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Tabulado pelo Gerat (Grupo Executivo de Redução de Trânsito), ligado diretamente ao presidente Fernando Henrique Cardoso, é o retrato estatístico da selvageria nacional.
Cerca de 90% dos acidentes são provocados, segundo o dossiê, por falha humana. Detalhe espantoso: 51% ocorrem em estrada reta, com dia claro, envolvendo apenas um carro.
Entre as principais causas, álcool e drogas. Traduzindo: desleixo.
"Não temos, na verdade, um problema de trânsito. Mas um problema de cidadania", afirma José Roberto Souza, coordenador do Gerat.
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Segundo ele, o elevado número de acidentes é provocado, em boa parte, porque os criminosos não são devidamente punidos -e também porque não existe um processo de educação sobre civilidade no trânsito.
Basta comparar: em países mais ricos, com as leis cumpridas com mais rigor, a exemplo dos EUA, a proporção é de duas mortes para cada 10 mil veículos; no Brasil, é cinco vezes maior.
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Esses dados servem de combustível para uma das mais interessantes campanhas sociais lançadas no Brasil -Natal sem morte.
No período natalino, governo e sociedade civil fariam um esforço conjunto para reduzir todos os tipos de mortes violentas.
Mensagem: se podemos num dia reconquistar o espaço público, podemos sempre.
"Nossa estratégia é simples. Vamos, de um lado, educar para que os motoristas sejam mais responsáveis. E, de outro, usar a nova lei, que vai dar status de assassino ao motorista que provocou mortes", garante José Roberto.
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PS - O novo código de trânsito vai ser sancionado em 7 de setembro, Dia Nacional dos Direitos Humanos. Apropriado.

Fax: (001-212) 873-1045
E-mail gdimen@aol.com

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