São Paulo, quarta-feira, 27 de agosto de 1997
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A VEZ DA SUÉCIA

Considerado durante décadas como um país exemplar na defesa dos direitos humanos e citado quase consensualmente como o caso mais bem sucedido na implementação do Estado de Bem-Estar Social, que garantiu padrões de vida civilizados à Europa do pós-guerra, a Suécia se permitiu adotar práticas similares às da Alemanha nazista.
De 1935 a 1976 o país manteve um programa secreto de esterilização compulsória de pobres, de pessoas consideradas doentes ou das "etnicamente impuras". Os de fato civilizados suecos mostram também uma mancha que os coloca ao lado dos falsamente neutros suíços, colaboradores do esforço de guerra nazista.
O argumento atroz sustentado durante décadas pelos governantes suecos era de que uma "raça pura" e pessoas saudáveis permitiriam a racionalização e a redução dos gastos do sistema de seguridade social.
O raciocínio, aceito por vários cientistas na década de 30, fica muito próximo do que levou os nazistas a cometer genocídio em nome da "limpeza étnica".
É certo que existe enorme diferença entre o assassinato de escala e método industriais do nazismo -que matou mais de 5 milhões de pessoas- e seria indigno comparar a magnitude do crime alemão ao do país nórdico.
A lição a extrair dos casos sueco e suíço é a de como um certo tipo de racionalidade fria, levada a seus limites, conduz a atitudes bárbaras ou coniventes com a barbárie. O pacifismo, a tentativa de escapar da loucura da guerra, mostra-se no caso suíço um pretexto para maximizar ganhos econômicos, à custa de auxiliar um dos dois regimes mais violentos do século. Na serena e harmônica Suécia, o balanço previdenciário pretende justificar, por uma lógica demente, a purificação racial.
Nos dois casos, a frieza racional produziu crimes ou cumplicidade criminosa. Os dois casos, de países "modelo", mostram que não existem atitudes modelares quando estão em jogo a mais mesquinha razão econômica, a lógica do poder e do suposto interesse nacional.

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