São Paulo, sexta-feira, 29 de agosto de 1997
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'Acústico' tira Titãs da crise

LUIZ ANTÔNIO RYFF
da Reportagem Local

ALEXANDRE LOURES
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Disco que vendeu 720 mil cópias em dois meses reconduz a banda ao topo, apara as arestas internas do grupo e adia os projetos individuais dos sete integrantes

As 720 mil cópias vendidas, apenas dois meses depois do disco chegar às lojas, não fazem de "Acústico MTV" somente o maior sucesso da carreira dos Titãs. O álbum fez com que a banda voltasse ao topo das paradas, servindo para apaziguar a crise interna do conjunto.
"Acho que todo mundo cogitou sair dos Titãs em algum momento", afirma o baixista Nando Reis. "Mas se hoje alguém resolvesse sair, acharia que ele estava louco e ficaria furioso. A gente sabe como custou se reequilibrar."
Desde a saída de Arnaldo Antunes, em 93, os Titãs vivem uma crise de identidade que culminou na interrupção dos trabalhos do grupo para o desenvolvimento de projetos paralelos de seus integrantes.
"Quando o Arnaldo saiu, percebemos que o grupo não era uma coisa eterna e que a qualquer momento algum de nós poderia ir embora. Isso desencadeou um processo que foi rondando nossas cabeças", afirma o guitarrista Tony Belloto.
Com a saída de Arnaldo, Nando diz que sentia as pessoas achando que a banda estava "capenga".
Democracia cruel
Para Belloto, o fato de o conjunto ser formado por sete pessoas torna inevitável o conflito de estilos: "Em 'O Blésq Blom' eu me sentia pouco representado. Tinha umas coisas eletrônicas que não me davam barato, pois sempre tive uma formação mais roqueira."
Outro integrante que se sentiu isolado foi Nando Reis, na época de "Titanomaquia" e "Tudo ao Mesmo Tempo Agora". "Eu fazia músicas, mas não conseguia emplacar nada nos Titãs. Eu ficava tocando baixo numa boa, só que não me sentia plenamente satisfeito."
Não era por acaso que ele cantava apenas uma canção em cada um desses discos. "Curiosamente, depois que o Arnaldo saiu eu passei a cantar menos no grupo", diz.
Isso é consequência da forma democrática do grupo decidir as questões internas. É um voto por cabeça, e a maioria decide. "É uma democracia cruel", afirma Nando.
Essa crise ganhou notoriedade quando o grupo fechou para balanço e seus componentes demonstraram suas diferenças em trabalhos solo diversos.
Enquanto Branco Mello e Sérgio Britto formaram a banda Kleiderman, que fazia um rock pesado e virulento, Nando Reis fez um disco de MPB com elementos regionais de percussão, Paulo Miklos realizou um trabalho mais acústico e Tony Belloto escreveu o romance policial "Bellini e a Esfinge".
Nos discos, o mais bem sucedido foi Nando Reis, que vendeu 27,3 mil cópias de seu "12 de Janeiro". Paulo Miklos vendeu 7,8 mil cópias de seu disco homônimo, enquanto "Con El Mundo a Mis Piés", do Kleiderman, chegou a 6,5 mil. A soma das vendas desses três discos não chega nem perto da metade da pior vendagem dos Titãs -109 mil cópias, com o primeiro disco.
"Depois dos trabalhos solos, para a gente se reencontrar foi difícil mesmo. Todo mundo se acostumou a tomar decisões sozinho", diz Nando.
"Esse foi o período em que mais corremos o risco de uma separação. Se algum trabalho solo fizesse um sucesso estrondoso, seria difícil para essa pessoa voltar para banda", diz Belloto, explicando a razão do reencontro, que culminou na gravação de "Domingo".
Desafogo
Além da diversidade de estilos e da saída de Arnaldo Antunes, a pouca execução das músicas do grupo nas rádios contribuiu para a crise.
"Para um grupo como o nosso se manter a gente tem que estar nas paradas", diz Miklos.
Com esse objetivo, foi lançada uma coletânea com dois CDs reunindo os maiores hits da banda. Logo em seguida, foi gravado o CD "Domingo", que marca o retorno ao pop e às rádios.
Já com "Domingo", os Titãs conseguiram afastar a nuvem negra da crise. "Mantivemos um certo peso, mas trouxemos a carga pop à tona. Foi um prenúncio do que vinha no acústico", afirma Branco Mello.
No pacote do reencontro, ainda veio o empresário Manoel Poladian, que respondeu pelos negócios da banda durante a época de "Cabeça Dinossauro", o maior sucesso do grupo até então.
Em "Acústico", outro filho pródigo também voltou a trabalhar com a banda: Liminha, que produziu "Cabeça Dinossauro" e toca nos shows da turnê atual.
Para Nando, fazer novos arranjos para velhos sucessos era uma empreitada arriscada. "Tínhamos medo de fazer algo patético".
Hoje, os shows são lotados de adolescentes que, no mais das vezes, nem haviam nascido quando o grupo começou.
"Estamos ampliando de novo o nosso público e voltamos a tocar no rádio. Foi um desafogo", diz Nando. "É muito importante para uma banda desse porte ser popular. Nossa vocação não é ser underground. Não tenho vocação para tocar para meia dúzia de pessoas. Isso não significa mediocrizar o trabalho."
Eles acabaram de renovar o contrato com a WEA até o ano 2.000. E ainda devem mais três discos à gravadora.
O resultado imediato do sucesso é que a o lançamento de uma caixa com todos os CDs remasterizados foi adiado por causa do volume de trabalho da banda. Só no próximo mês, eles fazem 22 apresentações.
No ano passado, os Titãs definiram que 1999 seria um ano dedicado a projetos individuais. "Esse ano solo deve ficar para a frente".

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