São Paulo, sexta-feira, 29 de agosto de 1997
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Representantes de festivais reclamam da falta de ousadia

Organizadores dizem que experimentação perdeu espaço

CECÍLIA SAYAD
DA REDAÇÃO

O curta como forma de expressão que permite a experimentação. É dessa forma que dois representantes de importantes festivais de curtas-metragens estrangeiros vêem esse tipo de filme.
Takashi Nakajima (diretor do Image Forum, que acontece desde 89 no Japão) e Christian Guinot (curador do famoso Clermont-Ferrand, que tem sua 20ª edição em 98) acham, porém, que a ousadia é algo cada vez menos presente nos curtas-metragens.
A impressão não está sendo causada somente pelos filmes que eles estão assistindo no 8º Festival Internacional de Curtas-Metragens de São Paulo.
"Na França, os filmes de pequena duração se parecem, muitas vezes, com longas-metragens. Eu acho que eles poderiam ser mais ousados", disse Guinot à Folha.
Para o curador, o curta não é apenas uma etapa obrigatória pela qual todo cineasta deve passar. É um filme como outro qualquer, mas que permite ao diretor arriscar mais.
"Por muito tempo, os curtas serviram como laboratório para experimentações que resultaram em movimentos importantes no cinema, como a 'nouvelle vague'. Mas, infelizmente, hoje em dia os diretores não fazem mais isso", afirma.
Nakajima notou a mesma falta de ousadia em curtas brasileiros que foram exibidos dentro da programação do festival de São Paulo.
"Quantas escolas de cinema há no Brasil?", perguntou ele, à busca de uma razão para a uniformidade na maneira de filmar que acredita existir nos filmes brasileiros que assistiu.
"Os filmes são muito sofisticados no que diz respeito à produção. Há também uma grande variedade de temas e estilos. Mas a maneira de filmar não varia -parece que todos estudaram na mesma escola", explica Nakajima.
"Prefiro os curtas experimentais", acrescenta, alertando para o fato de que não pôde ver todos os curtas nacionais da programação.
No Brasil a convite do 8º Festival, Guinot diz que sua estadia aqui serve para ele fazer uma pré-seleção de curtas brasileiros para Clermont-Ferrand.
Segundo o curador, o país tem tido uma participação marcante no festival francês, com dois ou três curtas em competição a cada edição do evento.
O festival de Clermont-Ferrand exibe, anualmente, cerca de 240 filmes: 70 na competição de filmes internacionais, 70 na competição de filmes franceses e 200 em mostras especiais.
"Acho que o Brasil é o país da América Latina que está mais próximo da Europa em termos de produção de curtas", diz.
Problemas como falta de salas que exibam curtas-metragens existem também no Japão e na Europa, ainda que, na França, canais como Arte e Canal Plus exibam curtas dentro de programações especiais.

LEIA a programação do Festival Internacional de Curtas-Metragens de São Paulo no Guia da Folha SP

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