São Paulo, sexta-feira, 29 de agosto de 1997
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ELEIÇÃO, TESTES E BLEFES

Os presidentes dos dois principais partidos no governo, PSDB e PFL, confirmaram a estratégia de eliminar as principais ameaças de candidaturas oposicionistas à Presidência da República, por ora balões de ensaio ou coisa pior: tentativas de angariar cacife político ou favores em troca da desistência da disputa do cargo.
Os líderes governistas querem evitar que o presidente Fernando Henrique Cardoso tenha de se submeter ao segundo turno. A idéia é consolidar ainda mais o grande partido da situação que ora comanda o país, um agregado de legendas em torno do consenso do Real. A iniciativa quer evitar a dissidência -pois é disso que se trata- do peemedebista José Sarney e do tucano Ciro Gomes.
Apesar de óbvia -quanto menos adversários melhor-, a estratégia não teria tanto fundamento se não fosse a equação que vem reduzindo ao marasmo a política institucional no país. Os políticos com ideologia difusamente conservadora ou pouco diferenciada em relação ao atual projeto econômico, ou ainda os simplesmente adesistas, não têm motivos ou não querem se arriscar a colocar o pé para fora do barco do Real, ainda muito popular. Os que pretendem dissentir -por discordância de fato ou por necessidade de construir uma candidatura alternativa- não sabem ou ainda não têm como criar um lastro programático, político e social para se lançar à disputa.
Dentro desse quadro, além do PT, que não sabe o que apresentar ao eleitorado para 1998, as candidaturas alternativas que ora se manifestam se reduzem a testes de cacife no mercado político de hoje ou do futuro. Sarney, o admitem os próprios governistas, é um nome negociável -isto é, pode ganhar fatias de poder deixando de lado um projeto hoje sem base política ou ideológica. Ciro Gomes teria assumido o compromisso de discutir sua candidatura de oposição com o próprio presidente.
De qualquer modo, a dissidência de Gomes depende de sua capacidade de vender seu nome e um programa político que congregue os setores mais ou menos dispersos da centro-esquerda e da esquerda não-petista. Nessa linha, o ainda tucano teria realmente em vista construir uma candidatura e um nome nacionais para 2002. Resta saber se uma oposição hoje fragilizada terá capacidade de fazer frente ao eventual êxito de um novo mandato tucano-pefelista.

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