São Paulo, sábado, 30 de agosto de 1997
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Casos de sarampo aumentam 6,4 mil %

RICARDO AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Os casos confirmados de sarampo no Brasil neste ano aumentaram 6.409,8% (ou 65 vezes) em relação ao ano passado.
Segundo a FNS (Fundação Nacional da Saúde, órgão do Ministério da Saúde), em todo o ano passado foram registrados 61 casos. Neste ano, em oito meses (de 1º de janeiro até a última quinta-feira), foram confirmados 3.971 casos.
Esse número pode subir, já que houve 11.241 notificações. Dessas, além das confirmadas, 2.069 foram descartadas e 5.201 estão em análise. Em 96, houve 3.881 notificações.
O Estado de São Paulo responde por 76,96% da incidência da doença no país, com 3.056 casos confirmados. Em seguida vem a Bahia, com 279 casos (7,03%).
A diretora do Departamento de Operações da FNS, Neyde Glória Garrido, admite que houve alguma falha, mas disse que é simplista culpar determinada esfera de governo (municipal, estadual ou federal) pela epidemia.
"Com certeza, isso aconteceu porque uma grande parcela da população não foi imunizada", disse. O índice ideal de imunização, no caso do sarampo, é de 95% da população. Dados parciais da FNS indicam que essa cobertura está em apenas 79%.
Para Neyde, as causas do aumento de casos da doença podem ser três: falta de vacinas, vacinas mal distribuídas ou inúteis por falha na armazenagem.
"Deve ter ocorrido uma dessas causas ou as três combinadas em algum momento da imunização da população", disse.
Ela afirmou que técnicos da fundação estão tentando levantar os motivos dos erros e o período em que aconteceram.
A diretora levantou a possibilidade de as falhas terem ocorrido há mais de 20 anos.
Dados da FNS indicam que 55% das vítimas de sarampo neste ano têm entre 20 e 29 anos. Essas pessoas deveriam ter sido vacinadas aos 6 e 9 meses de idade.
Política
Outro problema enfrentado pela Ministério da Saúde, segundo Neyde, é a fragilidade de seus sistemas de informação e de vigilância epidemiológica.
Para ela, uma das razões é a "descontinuidade administrativa" provocada por mudanças políticas nos órgãos de saúde.
"Para ser eficiente, o sistema de informações tem de ser permanente. Quando sai uma pessoa interessada e entra outra que não dá importância, toda a rede é desmontada", afirmou.
Neyde disse que se gastam muitos recursos financeiros e humanos para "apagar incêndios". "Essa é a nossa diferença para os países desenvolvidos, não temos um trabalho preventivo", afirmou ela.
A estrutura da democracia no Brasil é prejudicial aos serviços públicos, segundo ela. "Enquanto houver clientelismo, o sistema estará sujeito a altos e baixos."

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