São Paulo, sábado, 30 de agosto de 1997
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Aborto pode enfrentar resistência médica

DA FOLHA CAMPINAS

O professor de obstetrícia e coordenador da área de reprodução humana do Caism (Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher) da Unicamp, Aníbal Faundes, 66, disse ontem que as mulheres ainda poderão encontrar dificuldades para realizar aborto caso seja aprovada a nova lei.
Segundo ele, se o aborto se tornar obrigatório na rede pública e em hospitais conveniados ao SUS (Sistema Único de Saúde), nos casos previstos em lei, as mulheres podem enfrentar resistência de médicos.
"A lei não vai mudar muita coisa se a classe médica não aceitar a idéia", disse Faundes.
Faundes respondeu a processo por ter dito, em 94, que o Caism da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) realizava aborto em mulheres vítimas de estupro ou nos casos em que o feto apresentava má-formação congênita que pudesse levá-lo à morte depois de nascido.
O inquérito foi encerrado em 96, mas, por falta de provas, foi reaberto este ano.
Faundes disse que é contra o aborto em qualquer hipótese, mas que as mulheres brasileiras ainda têm de recorrer ao processo porque o país não dispõe das condições necessárias para evitá-lo.
Entre as condições, segundo ele, estão a educação sexual eficiente e precoce, equilíbrio nas relações de poder entre o homem e a mulher e um sistema de saúde que garanta qualidade à saúde fetal e a da mãe.
"Existem meninas que engravidam e nem sabem como aconteceu", disse o médico. Para ele, gravidez tem de ser opção de vida.
Faundes disse ainda que os países avançados, onde o aborto é descriminalizado em qualquer hipótese, registram os menores índices de aborto, como é o caso da Holanda.
Segundo Faundes, o índice de aborto entre as mulheres de 15 a 49 anos é de 0,5% naquele país. No Brasil, de acordo com o médico, o índice é de 3,7%.
O projeto de lei que regulamenta o aborto foi aprovado na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados e deve ser apreciado pelo plenário.
Se aprovado pelos deputados, vai para votação no Senado. Setores ligados à Igreja já se manifestaram contra.

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