São Paulo, sábado, 30 de agosto de 1997
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Cartão amarelo

JUCA KFOURI

O Caixa D'Água, o Eduardo Farah e o Rico Terra adoraram a última edição (mas terá sido mesmo a última?) da "Very Idiot Person".
Nela, o talentoso jornalista Paulo Nogueira, que resolveu virar "maldito" ao passar da casa dos 40 -até comprou gravatas berrantes e cortou o cabelo à Ronaldinho-, escreve que a imprensa esportiva é pior que os cartolas do futebol. E dá cartão vermelho ao "Cartão Verde".
Nada demais para o neo-iconoclasta que, recentemente, achou engraçado mexer com Ayrton Senna e obteve grande repercussão: uma (!) carta indignada de leitor. Nogueira anda enfastiado com tantas críticas à bagunça chamada futebol brasileiro. E reclama.
De fato, diga-se, a imprensa esportiva não é lá nenhum modelo, até porque alguns de seus representantes mais notórios vivem em promíscua relação com a cartolagem.
Mas Nogueira vai além. Confunde basquete e tênis com futebol, não sabe distinguir esportes que exigem mais resistência que força, pulmão ou músculos, e revela, importante!, que ele mesmo joga suas peladas às 11h da manhã, às vezes até ao meio-dia!
Não há, portanto, razão para queixas contra o calendário do nosso futebol, entre outras coisas, porque os jogadores ganham num contrato mais que qualquer jornalista ganha em toda a vida.
O jornalista pobre, injustiçado, e defasado "enfant terrible", não se conforma com tamanha desigualdade.
Ciúmes ainda agravados porque, segundo ele, "os jornalistas mais bem postos são exatamente os que mais gritam", miopia reveladora de perigosa inversão de valores -ao menos os que estão ricos, como Nogueira aprecia, são os que se acumpliciaram aos cartolas.
No fundo no fundo parece que está de olho numa improvável vaga na direção de "Placar" (a "Very Idiot Person" não acha seu caminho), onde certamente daria bastante espaço aos "divertidos" cartolas e seus negócios mirabolantes.
Consta que o próximo artigo do agora herético repórter tratará de revelar que Betinho não foi nada disso que se diz. Um outro escrito proporá o Nobel da paz para João Havelange e um terceiro iniciará campanha pela reabilitação de PC Farias.
Menos mal que o pai de Paulo, o saudoso Emir Nogueira, jornalista sério, exemplar, não esteja mais entre nós para ver a alegre metamorfose do filho.

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