São Paulo, domingo, 31 de agosto de 1997
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Decano do gozo

NELSON DE SÁ

NELSON DE SÁ; OTAVIO FRIAS FILHO
DA REPORTAGEM LOCAL

Aos 60, o diretor José Celso Martinez Corrêa permanece o "enfant terrible" do teatro brasileiro

OTAVIO FRIAS FILHO
Diretor de Redação
O diretor José Celso Martinez Corrêa, 60, não é de falar pouco. Foram seis horas de entrevista, realizada em dois turnos, no teatro e em seu apartamento. Ele fala com a boca, com os braços, por vezes "em transe", como diz ter aprendido com Plínio Salgado. Relata a sua participação, adolescente, num centro cultural integralista de Araraquara, e como ajudou a dispersar um comício comunista.
Já estavam lá os sinais do artista que depois se deixaria levar pelo populismo nacionalista do Iseb (Instituto Superior de Estudos Brasileiros) e que criaria o primeiro Oficina, de espetáculos como "Pequenos Burgueses".
Um caminho que levaria, no fim dos anos 60, ao modernista Oswald de Andrade e ao "Rei da Vela", também a "Roda Viva", já tomado pelo espírito de Artaud.
Foi preso e torturado pelo regime militar, não sem antes "desintegrar" a própria companhia. Depois de duas décadas de exílio e reconstrução, reabriu o teatro para temporadas comerciais com um repertório em que Artaud segue presente, bem como Oswald de Andrade.
Ergueu um novo Oficina em que identifica, como singulares, uma resistência à ordem liberal e uma inflexão no homoerotismo. Sempre iconoclasta, estréia mês que vem "Ela", peça de Jean Genet em que interpreta o papel do papa.
O "decano do ócio", como chegou a ser chamado, paradoxalmente trabalha muito. A qualquer hora que se visite o Oficina, no bairro do Bexiga, em São Paulo, é provável topar com algum ensaio em andamento.
Zé Celso, como sempre, tem muitos planos de encenação, uma enorme dificuldade para colocá-los em prática e uma verdadeira ojeriza pelo sucesso comercial. Recém-sexagenário, continua o "enfant terrible" do teatro, mesmo depois que todos os tabus caíram e todas as experimentações foram feitas.

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