São Paulo, domingo, 31 de agosto de 1997 |
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'Foi a pior semana de minha vida'
DO "THE INDEPENDENT" Leia a seguir o relato de um padre enviado ao centro de Our Lady of the Victory por uma semana, para ser submetido a avaliação."Ser enviado a Stroud" -é isso que se comenta em tom baixo nos presbitérios de todo o país. Eu sei, porque fui enviado para lá. Fui enviado a Stroud -ostensivamente para ser submetido a uma semana de avaliação- quando o bispo descobriu que sou não apenas gay, mas ativo. Foi a pior semana de minha vida. Ao chegar, fui levado até meu quartinho e recebi a visita de um padre idoso do Arizona, que me avisou que tinha que revistar minha bagagem à procura de "álcool ou material pornográfico". Eu não tinha nada disso e fiquei pasmo com a invasão de privacidade. Depois, me foram apresentadas as regras da casa: nenhuma saída na primeira semana e, depois disso, saídas permitidas apenas na companhia de pelo menos mais um residente da casa. Visitas a qualquer bar são proibidas. Fui informado de que, se minha avaliação incluísse recomendação para que eu ficasse, não seria autorizado a ir embora, e a semana poderia prolongar-se por seis ou sete meses. No decorrer da semana, fui entrevistado por dois padres e uma psicoterapeuta. O primeiro padre foi franco e direto e não demorou a concluir que eu não me beneficiaria de passar mais tempo no local. A psicoterapeuta chegou à mesma conclusão, mas, embora o relatório dela tenha sido o mais positivo, achei sua atitude condescendente e cheia de desprezo. O segundo padre, o superior da casa, mostrou-se frio e distante. Li seu relatório antes de despachá-lo ao bispo. Era uma litania precisa, mas fria, de minha atividade sexual, e não mencionava nada sobre meu desejo subjacente de buscar um companheiro. Nos últimos anos o crescente problema da pedofilia -ou o fato de mais pessoas estarem sendo expostas como pedófilas ou admitirem sua condição- fez com que a maioria dos padres hoje residente em Stroud tenha sido admitida por delitos desse tipo, a ponto de frequentemente faltarem vagas. Alguns homens passam até dois anos ali. Conheci um cujo nome liguei ao de alguém que havia sido condenado a dois anos de prisão por delitos pedófilos. Quer dizer que tais homens estavam cumprindo sua pena em Stroud, em vez de na cadeia? Um residente observou: "Não é incomum ver homens saírem daqui num camburão da polícia." O autor deste texto é um padre católico assistente, que deseja manter-se anônimo Texto Anterior: Igreja tem 'centro de reabilitação', diz padre Próximo Texto: Filme brasileiro enfrenta imprensa Índice |
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