São Paulo, domingo, 31 de agosto de 1997
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'Beleza me ajudou, mas não representa nada na política'

RODRIGO BERTOLOTTO
DA REPORTAGEM LOCAL

Irene Sáez, 35, trocou cetro, capa de veludo, coroa de diamantes e faixa de miss por blazeres azuis, citações do papa João Paulo 2º e livros de política e administração.
Hoje defende um modelo gerencial de governar, sem determinar sua posição política, apesar de ser apoiada fundamentalmente pela direita de seu país.
Na década de 80, Sáez cursou ciências políticas e trabalhou em programas de alfabetização e como diretora da Associação de Damas Salesianas.
Em 1989, já formada, embarcou para Nova York, onde trabalhou na embaixada de seu país na Organização das Nações Unidas.
Sáez governa os 185 mil habitantes da cidade de Chacao, mas pode a partir de 1999 comandar os 22 milhões de venezuelanos.
Abaixo, os principais trechos de sua entrevista por fax à Folha, feita na semana passada. (RB)
*
Folha - A srta. acredita que os partidos tradicionais de seu país não têm mais o respaldo popular?
Irene Sáez - O processo de desgaste dos partidos políticos começou há muito tempo, quando o povo se cansou das promessas não cumpridas. Isso afeta os partidos e seus líderes.
O venezuelano é um ser muito nobre, mas já não aguenta mais. As pessoas querem alguém que demonstre que pode fazer o que fala. Sinceramente, acredito que a substituição das lideranças está acontecendo.
Folha - Os opositores a sua candidatura à Presidência afirmam que as pesquisas de popularidade apontam a srta. em primeiro lugar porque só consultam homens. Qual é a sua opinião sobre essa idéia?
Sáez - É mentira. Sinto um caloroso apoio das mulheres, que querem ver uma outra mulher mudar as coisas no país. Eu sou querida por homens e mulheres.
Folha - Ser uma mulher bonita ajuda ou atrapalha em sua vida política?
Sáez - A beleza me ajudou, mas não representa nada na política. Quando me lancei candidata a prefeita, as pessoas se lembravam da mulher que representou a beleza venezuelana, mas do que elas mais gostavam é que eu tinha feito algo mais do que desfilar.
Eu estudei, me formei e representava o país dentro e fora dele.
E ser criativa e corajosa é muito mais importante do que ser bonita.
Folha - Como se definiria como política? Qual é a sua ideologia?
Sáez - Sou uma servidora pública, que concebe o Estado como uma corporação de serviços. Este final de século nos mostrou que as ideologias de direita e de esquerda já não respondem aos desafios que enfrentamos. Mas a globalização da economia deve ser compensada com um maior humanismo nas ações governamentais.
Folha - Quais são seus ídolos dentro da política?
Sáez - Aprendo com todas as personalidades, mas minha inspiração é a mulher venezuelana. Ela trabalha, é dona-de-casa, esposa, mãe e ainda tem tempo para dedicar a ela mesma.
Isso não tem nada a ver com sermos melhores ou não do que os homens. Homens e mulheres são diferentes. Mas nós começamos a provar que somos empreendedoras, porque não paramos frente às adversidades.
Folha - A srta. se associaria a um partido tradicional como o Copei (centro-direita) para concorrer à Presidência em 1998?
Sáez - Sim. Na Venezuela, precisamos somar as vontades e aglutinar os esforços. Penso que devemos ir além de um partido, uma cor ou uma ideologia. Nosso objetivo é transcender.
Folha - O que sonhava ser quando era pequena?
Sáez - A prefeita de Chacao!
Folha - Como explicar a produção de misses na Venezuela?
Sáez - O concurso de Miss Venezuela é algo como uma instituição. Este país ficou conhecido como produtor de petróleo, mas começou a exportar também a beleza de suas mulheres. Mostramos que não há só riquezas naturais e materiais, mas também beleza.
Folha - A srta. dirige o município mais rico do país, mas como pensa governar um país que tem 76% do povo abaixo do nível de pobreza?
Sáez - Como venezuelana, não posso conceber isso em um país com tantos recursos, com tanta produtividade. A solução é termos um esquema gerencial, visionário e descentralizado. Os problemas fundamentais da Venezuela são a fome, o abandono e a falta de educação, saúde e segurança.
Minha luta não vai ser para ocupar uma cadeira, mas para transformar a realidade política, social e econômica de meu país.
Folha - Não é muito personalismo pertencer a um partido cuja sigla forma o seu nome, o Irene?
Sáez - A sigla Irene é um movimento que decidiu me acompanhar a partir das eleições de 1995. Foram esses seguidores que fundaram o Irene, não eu.

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