São Paulo, domingo, 31 de agosto de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Entre nessa gelada

FÁBIO ROSSI

Uma aventura de quatro brasileiros mostra os perigos e fascínios das geleiras do Alasca
Verão no Alasca significa temperaturas entre 5º e 10ºC e ventos que chegam a 60 km/h. A fauna local inclui ursos famintos por qualquer coisa, inclusive seres humanos, e baleias orca. Nas paisagens, blocos de gelo que despencam de 150 metros de altitude e explodem nas águas geladas do mar. Em duas palavras: perigo e beleza.
No último dia 4 de junho, quatro brasileiros, patrocinados pela Axe (empresa de desodorante), começaram uma aventura cheia de riscos nessa região. A bordo de caiaques oceânicos de 5 m de comprimento -munidos de comida, água potável, equipamentos de camping, rádios bidirecionais (que lhes permitiam contato com qualquer parte do mundo) e roupas especiais- partiram rumo a um lugar que poucos conhecem: a Glacier Bay, uma bacia formada pelo degelo dos grandes glaciares do Alasca. No total, foram 15 dias de muita emoção.
Na primeira parte da viagem, eles percorreram o braço leste da bacia e passaram entre duas gigantescas geleiras (a McBride e a Riggs). Remando 20 km por dia, sob chuvas constantes, precisavam aproveitar corretamente o movimento das marés e a direção do vento. Nem sempre conseguiram. "Tivemos um erro de navegação. Foi num dia em que não conseguimos encontrar lugar para acampar e tentamos voltar para uma pequena praia que havíamos visto. Só que a maré estava contra, o vento muito forte, e, por mais que remássemos, a sensação era que os caiaques não saíam do lugar", conta Ingnácio Aronovich, um dos aventureiros. "Demoramos três, quatro horas para percorrer alguns quilômetros."
Nesse trecho da viagem um urso negro rondou o acampamento. "Ficamos observando-o nadar. Depois, sumiu entre as árvores. Não largamos nem um momento do spray paralisante, que poderia deixá-lo desorientado e momentaneamente cego", diz Cláudio Zsigmond, outro dos aventureiros.
Os ursos, apesar de não enxergarem bem de longe, têm olfato apuradíssimo. Por isso, a equipe de brasileiros tinha que cozinhar e comer a 500 metros do local onde iriam dormir, e trocar de roupa após cada refeição para que não exalassem cheiro de comida. Guardavam lixo, mantimentos, artigos de higiene pessoal e as roupas em tubos à prova de ursos, para que não fossem "roubados" à noite. "Os ursos não sabem diferenciar cheiro de comida, pasta de dente ou lixo. São onívoros e isso significa que comem qualquer coisa", explica Louise Chin, a única mulher da aventura.
Na segunda parte da viagem, a equipe subiu até a fronteira do Canadá, remando pelo braço oeste da bacia, que, ao contrário do leste, permite passeios de grandes embarcações. Aí foi comum cruzarem com enormes navios carregando cerca de 3.000 turistas, que olhavam com curiosidade para os quatro brasileiros em seus caiaques, "como se fossem os animais selvagens".
Desse lado da "Glacier Bay", a equipe passou pelas geleiras Lamplugh, Margerie e Grand Pacific. Acampando a 100 metros de imensas paredes de gelo, com quase 150 metros de altitude, puderam assistir às quedas de impressionantes blocos de gelo, que caíam lá do alto e se espatifavam no mar gelado.
"O som do gelo despencando na água é muito parecido com o som de trovões. Por isso, é conhecido pelos nativos como 'White Thunder'(Trovão Branco)", ensina Toco Lenzi, um "aventureiro profissional", que integrou a equipe.
Não demorou muito para que eles finalmente encontrassem um temível urso marrom, conhecido como "Grizzly" (medonho), e que, em pé, chega a medir mais de três metros. "Estávamos indo para a bacia, carregando os caiaques, quando várias pessoas que passavam num navio gritaram e acenaram para nós. Achamos que eles queriam nos cumprimentar e acenamos de volta. Mas eles estavam tentando nos avisar que estávamos muito perto de um urso", lembra Ignácio.
Os aventureiros entraram em seus caiaques, remaram poucos metros e então viram o "Grizzly". "Ele estava na margem, comendo umas frutas. Tivemos sorte, pois ele não veio em nossa direção. Ao que parece, não percebeu a nossa presença", continua Ignácio.
Mas nem só de susto foi feita a aventura. A equipe pôde ver cenas de raríssima beleza, como milhares e milhares de patos levantando vôo. "Vimos os patos de longe, mas achamos que eram pedras. Quando nos aproximamos, as pedras começaram a voar. Pode imaginar 20 mil patos tomando o céu ao mesmo tempo?", diz Louise. Certo dia, várias focas acompanharam os caiaques por muito tempo, como se fossem companheiras de viagem. De repente, apareceu um grupo de baleias orca (as chamadas baleias assassinas) e os brasileiros puderam ver o medo nos pequenos rostos das focas, que fugiram apavoradas.
"Foi uma cena impressionante. Não ficamos com medo, porque as baleias estavam razoavelmente longe e a chance de nos atacarem era muito remota", diz Ignácio.
A alimentação da equipe era desidratada e as roupas eram de fibra especial, que protege do frio e da água gelada, permitindo a transpiração e equilibrando a temperatura do corpo. Apesar de toda a tecnologia usada pelo grupo, conhecer tão de perto o Alasca é como uma volta no tempo. É um lugar que não sofreu quase nenhuma influência do homem, onde não há bitucas de cigarro no chão, nem barulhos de máquinas. Áreas enormes ainda estão intocadas e é precisamente isso que atrai tantos turistas.
No verão, o Alasca fica escuro apenas quatro horas por noite. Além de ursos e baleias, é possível ver enormes rebanhos de renas, alces e cabras. Águias americanas e gaivotas descansam em icebergs. É a maior área de preservação ambiental do mundo. Uma aventura para os olhos.
Para Turistas
O Alasca, o maior Estado dos EUA, tem três cidades importantes: Juneau, Anchorage e Fairbanks. No verão, que vai de maio ao final de agosto, todas elas se enchem de turistas. Não vale a pena ir no inverno porque é frio demais e a vida animal, um dos maiores atrativos da região, se torna praticamente invisível.
A capital do Alasca, Juneau, é uma cidade pequena e agradável. Há ótimos restaurantes e uma infinidade de lojinhas de souvenires. É lá que fica a sede da agência "Alaska Discovery", onde o turista pode fazer aventuras de caiaque, observar ursos e baleias e conhecer grandes geleiras, sempre acompanhado por guias, com segurança e conforto.
O preço varia de acordo com a aventura escolhida. Um passeio diário de caiaque pela Glacier Bay, por exemplo, custa U$ 119. Cinco dias passeando de canoa e observando a vida selvagem do Alasca, incluindo vôos de hidroavião e permissão para entrar no refúgio dos ursos marrons em Pack Creek, tem um preço mais alto: US$ 1.475.
A "Apevine - Adventure Pursuits Extraordinaire", localizada em Cupertino, Califórnia, também promove expedições por trilhas de ursos, canoagem e outras aventuras. Um dia de exploração em uma área de águias e ursos marrons custa US$ 349.
Para quem quer viajar de mochila nas costas e pouco dinheiro, o ideal é ficar no Juneau International Hotel, que cobra US$ 10 por noite e dá descontos para grupos grandes de turistas.
Até 3 de setembro, a Maringá Turismos, operando pela Queensberry, oferece um cruzeiro pelo Alasca. O roteiro começa no aeroporto de São Paulo ou do Rio, onde os turistas embarcam para Vancouver via Miami. No segundo e terceiro dia, se tem a oportunidade de conhecer essa cidade canadense. No quarto dia, os turistas embarcam num navio da "Princess Cruises" e o cruzeiro começa. Passeios em cidades históricas do Alasca e lugares repletos de glaciares e animais selvagens, além de hospedagem em Fairbanks e Anchorage, fazem parte do pacote. O preço da parte terrestre/marítima varia de US$ 2.760 a US$ 6.290, dependendo do tipo de cabine. A parte aérea vai de US$ 1.355 a US$ 3.338. A Kamel Turismo também faz cruzeiros.

SERVIÇO Varig: São Paulo - Los Angeles pela Varig, Los Angeles - Seattle pela Delta e Seattle - Juneau pela Alaska Airlines, domingo a quinta, US$ 2.026, sexta e sábado US$ 2.076. São Paulo - Los Angeles pela Varig e Los Angeles - Anchorage pela Delta ou Alaska Airlines, domingo a quinta, US$ 1.703, sexta e sábado, US$ 1.749 (preços de agosto), tel. 556-11161. Vasp: São Paulo - Los Angeles pela Vasp e Los Angeles - Anchorage pela Alaska Airlines, terça, sábado e domingo, US$ 1.212 (preço de agosto), tel. 0800-998277. Alaska Discovery: www.gorp.com/akdisc.htm, tel. 001 (907) 780-6226. Apevine Adventure Pursuits Extraordinaire: www.apenet.com/index.html, tel. 001 (408) 446-2396
Juneau International Hotel: tel. 1 (907) 586-9559
Alaska Wilderness Plantation Inn: tel. 001 (907) 243-3519, e-mail: akdisco@alaska.net Maringá Turismos: até 3 de setembro, operando pela Queensberry, oferece um cruzeiro pelo Alasca, passando por Vancouver, no Canadá. O preço da parte terrestre/marítima varia de US$ 2.7600 a US$ 6.290, dependendo do tipo de cabine. A parte aérea vai de US$ 1.355 a US$ 3.338. Tel: 255-5077 (Patrícia). Transibérica: cruzeiro pelo Alasca mais Vancouver (Canadá): R$ 3.150,00 por pessoa em apartamento/cabine dupla. Inclui: quatro dias em Vancouver (Canadá), três dias na ilha de Vitória, oito dias de cruzeiro, pelo Alasca, passando pelas cidades de Juneau, Shagway, Ketchika e por toda a baia glacial. Tel: 258-6838/258-9873. Kamel Turismo: r. Mariz e Barros, 821, 2º andar, Tijuca, Rio de Janeiro. Tel: (021) 284-4038.

Texto Anterior: De rosto colado
Próximo Texto: Maçã à francesa
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.