São Paulo, segunda-feira, 1 de setembro de 1997
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Vitória de Dirceu acirra a divisão do PT

CARLOS EDUARDO ALVES

CARLOS EDUARDO ALVES; WILSON TOSTA
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

Ex-deputado é mantido na presidência do partido com 28 votos de vantagem; 'esquerda' tem 46,5% dos votos

WILSON TOSTA
José Dirceu foi reeleito ontem presidente nacional do PT com 284 votos, contra 256 de seu adversário, o deputado federal Milton Temer (RJ).
Outros 9 delegados petistas votaram em branco e 1 anulou. A diferença de 28 votos a favor do ex-deputado Dirceu, candidato das alas moderadas do partido, indica que não foi superada a divisão interna.
Na votação para a composição do Diretório Nacional e da Executiva Nacional do PT, os moderados também venceram apertado.
Na soma, as alas de "centro" e "direita", que apoiaram Dirceu, ficaram com 41 vagas no Diretório, que vão se somar a três outros votos (líderes das bancadas na Câmara dos Deputados e no Senado e presidência do partido) -um total de 44 votos. A "esquerda", se conseguir o apoio dos independentes, vai atingir 40 assentos.
A vantagem no olho mecânico será repetida na formação da Executiva. Na votação das chapas, a união dos grupos organizados de "esquerda" superou a da centrista "Articulação", de Luiz Inácio Lula da Silva e Dirceu, que só mantém a maioria graças ao aval dos setores liderados pelos deputados José Genoino e Rui Falcão.
Campanha
O PT conseguiu desenhar, na solenidade de encerramento da convenção, o palanque que deseja formar para a provável candidatura presidencial de Lula.
Leonel Brizola (PDT), Fernando Gabeira (PV), representantes de PSB, PC do B e PCB formaram a mesa, no Hotel Glória.
Citado em discursos e personagem da campanha de solidariedade iniciada pelo partido, José Rainha Jr., líder do MST, também foi à festa preparada como primeiro passo para a formação de uma "frente popular" para 98 em torno da provável candidatura de Lula.
Após o anúncio de sua vitória, Dirceu radicalizou seu discurso. Criticou a "camarilha que ocupa o Palácio do Planalto", pregou a "ruptura" com a ordem econômica mundial e apelou para jargões esquerdistas como "sem luta de classes não há transformação".
Milton Temer não deixou por menos. Disse que sua candidatura a presidente do partido "ajudou a construir a unidade de combate do PT à classe dominante".
A unidade da esquerda planejada por Lula e Dirceu, no entanto, não será fácil de ser construída, a começar pelo PT. O "verde" Fernando Gabeira foi recebido com vaias na convenção, por causa de votos dados pelo deputado a favor da quebra de monopólios.
A candidatura de Dirceu foi encaminhada no plenário por Tarso Genro, ex-prefeito de Porto Alegre. Três oradores dividiram o tempo reservado para os apoiadores de Temer: Plínio de Arruda Sampaio (ex-deputado federal), Raul Pont (atual prefeito de Porto Alegre) e Vladimir Palmeira (ex-deputado).
A maior vitória política do grupo moderado foi a aprovação da "Carta do Rio de Janeiro", que norteará a posição do PT sobre alianças eleitorais.
O documento contempla a participação, no palanque da legenda, dos partidos de esquerda até "todos os segmentos sociais e políticos que se opõem ao projeto neoliberal e ao governo FHC".
O texto estabelece, ainda, que "nenhum interesse regional deverá prevalecer diante do desafio de barrar a recondução de FHC e bater o neoliberalismo".

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