São Paulo, segunda-feira, 1 de setembro de 1997
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A prosperidade americana

JOÃO SAYAD

Na semana passada, os jornais noticiaram a redução do desemprego em São Paulo. De acordo com dados do Seade, o desemprego caiu de 16% para 15,7%.
Os Estados Unidos estão com nível mais baixo de desemprego dos últimos anos. A Europa, França particularmente, tem altos níveis de desemprego. A "Fortune" anunciou que voltaram os bons velhos tempos da economia americana.
Em livro recente, ("Money, Who Has How Much and Why", Scribner, 1996) Andrew Hacker analisa a história toda, complexa e concreta, da economia americana atual.
A renda "per capita" dos Estados Unidos cresce 0,5% mais lentamente depois de 1973 do que nos cem anos anteriores.
Entre 1870 e 1970, 40% da população americana trabalhava. Hoje, 50% trabalham. E, com mais trabalhadores, a renda "per capita" deveria ser maior. Entretanto, a produtividade dos trabalhadores cresce muito lentamente. Cresceu 1% no período posterior a 1973 enquanto que antes crescia 2,5% ao ano.
O crescimento atual é tão modesto que a renda dos trabalhadores ainda não atingiu o pico do meado dos anos 80. Somente em 1996, a renda das famílias está chegando aos níveis de 1989.
Há sete anos que a economia americana vem crescendo sem recessão. Mas o crescimento tem sido modesto e qualquer pequena recessão, muito provável depois de tantos anos de prosperidade, pode apagar os modestos resultados obtidos até agora.
A renda se concentrou. 68 mil famílias têm renda superior a US$ 1 milhão por ano (cinco vezes mais do que em 1979). Os mais pobres da lista dos 400 mais ricos da "Fortune" tinham fortunas de US$ 400 milhões. Hoje, os mais pobres desta lista têm fortunas três vezes maiores.
Há 20 anos, os 5% mais ricos da população tinham renda média de US$ 123 mil por ano. Hoje, a renda média deste grupo cresceu 50% atingindo US$ 189 mil por ano.
A pobreza que atingia 22,4% da população em 1959, caiu para 11,1% em 1970 e voltou a 14,4% em 1990, e 13,8% em 1995. Ainda é maior do que em 1989.
Mais educação, segundo Hacker, não ajudaria muito, pois os novos empregos não exigem muito mais habilidade do que trabalhar com processador de textos e planilhas.
Os americanos estão trabalhando mais. Hoje, aumenta a participação das famílias em que trabalham marido e mulher ainda que a renda permaneça constante.
Os cortes de gastos públicos afetaram mais os serviços dos americanos mais pobres do que os americanos mais ricos, segundo o Departamento do Tesouro. Os cortes de impostos foram mais favoráveis aos mais ricos.
O sonho americano de prosperidade -emprego, carro, e casa própria- não foi resgatado.
Hacker sugere que a flexibilização do mercado de trabalho americano conseguiu taxas menores de desemprego do que na Europa onde os gastos sociais continuam elevados, mas com menores salários e pior distribuição de renda.
Toma como exemplo a ser seguido, o caso da Holanda onde as reformas liberalizantes do mercado de trabalho foram acompanhadas pela manutenção de um generoso sistema de seguro social.
A economia americana, a européia e mesmo a brasileira parecem estar passando por longo ciclo de deterioração que se iniciou em 1973 e agora, mais de 20 anos depois, começa a se recuperar lentamente com resultados quantitativos muito fracos.
A direita acredita que inaugurou nova era de liberdade e prosperidade. Que o desemprego é culpa das velhas leis. A esquerda acha que as novas tecnologias exigem, mais uma vez, sacrifício dos mais pobres.

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