São Paulo, segunda-feira, 1 de setembro de 1997
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Uma empresa não é uma ilha

LUÍS NASSIF

Uma empresa não é uma ilha. Quanto maior, maior o universo influenciado por suas ações, de consumidores a fornecedores.
Hoje em dia o capital internacional flui preponderantemente entre matrizes e filiais, através de transferência de recursos, empréstimos entre companhias ou compra e venda de insumos. No entanto, tem-se no Brasil essa excrescência de grandes multinacionais de capital fechado, sem fornecer um dado sequer para o público.
Lojas de departamentos, com milhares de pequenos fornecedores, quebraram sem emitir um sinal prévio de fragilidade. Construtoras com milhares de mutuários, consórcios com milhares de clientes, bancos com milhares de correntistas foram para o buraco, sem que a rota de quebra fosse alterada, pela falta de pressão externa que permitisse vencer a inércia dos proprietários.
Caráter público
É possível que o atual estágio de desenvolvimento das empresas brasileiras ainda coloque resistências a essa abertura de informações. Ainda se tem empresas, de setores fortes da economia, cujos donos nem sequer aceitam a hipótese de abertura de capital, considerando-as como extensão da família. Essa resistência terá que ser quebrada a partir de uma ampla discussão sobre a natureza das empresas.
Toda empresa se deve ao espírito empreendedor do seu fundador, e às gerações que investiram no seu crescimento. Como tal, acionistas ou proprietários têm pleno direito à propriedade, à posse das ações da empresa e à sua valorização. Mas, a partir de uma certa dimensão, a empresa adquire caráter público, e a sociedade tem pleno direito de saber como atua a empresa no seu ambiente social e econômico.
Faria muito bem ao Brasil e às empresas se a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) desengavetasse o mais rapidamente possível sua proposta de estender a obrigatoriedade do balanço a toda empresa, a partir de determinado porte -independentemente da natureza de seu capital.
Também os contabilistas têm trabalho relevante a desempenhar nessa política, caso resolvam avançar além das implicações fiscais dos balanços. Indicadores gerenciais, hoje em dia, são peças fundamentais na estratégia de qualquer empresa, independentemente do tamanho. Os escritórios que avançarem além das informações meramente fiscais, e se aparelharem para oferecer a seus clientes dados gerenciais organizados, terão largo espaço de crescimento pela frente.

E-mail: lnassif@uol.com.br

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