São Paulo, segunda-feira, 1 de setembro de 1997
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Keith Haring

CASSIANO ELEK MACHADO
EM NOVA YORK

Em qualquer rabisco de Keith Haring, em pinturas, esculturas e grafites, a mensagem é sempre a mesma: "carpe diem" -aproveite o dia, tire proveito da vida.
O artista plástico viveu apenas 31 anos. Morreu em 1990 em decorrência do vírus da Aids.
Sua obra, no entanto, continua pulsando, e Haring parece ter gasto até o último litro de tinta em cores berrantes para comprovar isso.
No centro de Nova York, cidade que melhor traduziu sua atitude -e melhor foi traduzida por Haring-, está a maior retrospectiva já realizada da obra do artista.
Até o último dia do verão nova-iorquino -a mostra foi inaugurada no começo da estação- o terceiro andar do poderoso Whitney Museum of American Art abriga pinturas, esculturas, diários e fotografias de Haring.
A montagem da exposição preservou a mesma voltagem da obra do artista. Lado a lado, as dezenas de peças criam a sensação de uma visita ao ateliê de Haring.
Em um dos espaçosos ambientes, os trabalhos são acompanhadas de vídeos de hip-hop, ritmo que acompanhou a produção do artista na década de 80.
Na mesma sala, ao som desses efeitos sonoros lunares, estão páginas de diários de Haring.
Em uma delas está escrito: "Sou um perfeito produto da era espacial. Não apenas porque nasci no ano em que o primeiro homem foi para a Lua, mas porque cresci com os desenhos de Walt Disney".
Com a frase, Haring delimita duas de suas principais paixões temáticas. Ao lado das viagens espaciais e de recriações lisérgicas de Mickey Mouse, Haring se dedicou como poucos a pintar acidentes nucleares, robôs, discotecas, drogas e muito sexo.
Quando lhe perguntavam sobre o significado desses elementos, Haring desconversava. Dizia veementemente que não havia significado. Ele simplesmente se dedicou a falar de e para a sua geração.
A sua expansão do legado pop de Andy Warhol não foi apenas temática. Para Haring a arte tinha que ser direta e acessível, de preferência, pública.
Seus traços proliferaram em metrôs, muros de escolas, postes e escadarias em ritmo de deixar inveja a Jean-Michel Basquiat, seu companheiro de New York School of Visual Arts e emérito grafiteiro.
Mais do que preencher dezenas de metros cúbicos de muros, as criações de Haring migraram para camisetas, adesivos, ímãs de geladeira e broches.
Esses e outros itens podem ser vistos passeando no corpo de nova-iorquinos ou na Pop Shop, loja que Haring criou no SoHo em 1986 para vender produtos com seus traços.
Em qualquer desses produtos, assim como em cada peça da exposição, está a recomendação que Haring grafitou diversas vezes nas ruas: "Apenas viva, apenas viva, apenas viva...".

Exposição: Keith Haring
Onde: Whitney Museum (av. Madison, 945, altura da rua 75)
Quando: diariamente, até 21 de setembro

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