São Paulo, segunda-feira, 1 de setembro de 1997
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Chascona revela intimidades do poeta

MARISTELA DO VALLE
ENVIADA ESPECIAL A SANTIAGO

Quem assistiu ao filme italiano "O Carteiro e o Poeta" ou gosta dos versos de Pablo Neruda (1904-1973), cujo aniversário da morte é no dia 23 deste mês, não pode deixar de visitar a Chascona, a casa do poeta em Santiago, que virou museu.
O próprio Neruda influenciou a arquitetura da casa, que foi construída para ser o lar da amante Matilde Urrutia, quando o poeta ainda vivia com Délia del Carril. A palavra "chascona" significa mulher de cabelos rebeldes e a casa foi batizada em homenagem à amante.
No livro "Mi vida junto a Pablo Neruda", Matilde lembra como foi a concepção da casa.
O arquiteto contratado para projetá-la teria considerado o terreno muito desfavorável por ser "vertical" -ele ocupa parte da montanha San Cristóbal.
Mas, para Neruda, isso era uma vantagem, já que ele poderia avistar toda a Santiago, até a cordilheira.
E, para que isso realmente ocorresse, o poeta pediu que a sala fosse cercada de vidros. Ao final da obra, o arquiteto teria dito: "Essa já não é uma casa minha, é uma casa desenhada por Pablo".
Quando se separou de Delia, em 1955, Neruda passou a viver com Matilde. Juntos, eles se dividiam entre as casas de Isla Negra, Valparaíso e Santiago.
Mas foi na Chascona que o poeta foi velado em setembro de 1973, em meio a lama e cacos de vidro espalhados pelo chão.
Isso porque a casa havia sido invadida pelos militares logo depois do golpe que depôs Salvador Allende, devido às relações que Neruda mantinha com o regime comunista.
Matilde continuou morando na Chascona até a morte, em 1985. Dois anos depois, a casa foi aberta à visitação pública.
Coleções
Na casa, os turistas podem apreciar objetos e móveis de diversas partes do mundo, comprados pelo poeta durante suas viagens. Esculturas polonesas e peruanas, mesas francesas e quadros de amigos do pintor são algumas dessas obras.
A grande quantidade de copos, de diversos tamanhos e cores, chama a atenção. Eles estão em cada canto da casa e não só na sala de jantar, que lembra um barco, uma das paixões do poeta.
O mais curioso na sala é uma passagem secreta escondida atrás de uma porta de armário entre o compartimento e a escada que leva ao quarto do casal.
Três prédios
Chascona é constituída de três construções diferentes.
Duas delas possuem, cada, uma sala e um quarto. O terceiro prédio é uma edícula que abriga a biblioteca, com 9.000 livros em inglês, espanhol e francês.
Ali, há desde romances até livros históricos, passando pelas obras sobre pássaros, objeto de estudos do poeta e fonte de inspiração de muitos de seus poemas.
A Fundação Pablo Neruda, responsável pelas três casas em que o poeta viveu, sempre submete seus livros a restaurações.
Ela mantém a maioria dessas obras na Chascona, que as conserva melhor por não estar tão próxima ao mar -Isla Negra e Valparaíso ficam no litoral chileno.
Outros livros de Neruda foram doados à Universidade do Chile.

Fundação Pablo Neruda - Telefone: (56-2) 737-8712

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