São Paulo, quarta-feira, 3 de setembro de 1997 |
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Seja feita a luz (vermelha)
CARLOS HEITOR CONY Rio de Janeiro - No fundo, acho que merecia. Religiões, filosofias, ideologias -todas as manifestações do espírito humano sempre me deixaram na mão, daí que nem mesmo com o avançar dos anos fiquei livre da dúvida sobre o que deveria fazer, pensar e sentir. São Paulo fala na "confusão deles próprios". Aplicando ao meu caso, sou confuso em mim mesmo.Ou melhor, era. A partir de agora, com a fulminante chegada do Bandido da Luz Vermelha à mídia, acredito que meu tempo de dor e perplexidade chegou ao fim. Bem verdade que houve o antecedente do Ronald Biggs, que roubou um trem em Londres e tornou-se guru aqui no Brasil. Nos cadernos de amenidades dos jornais ele indicava os melhores restaurantes, os melhores pratos, o melhor chope. Não fiz muita fé em suas dicas, afinal, era um inglês que deve entender de chá e asma. Nada mais do que isso. Com o Bandido da Luz Vermelha temos um exemplar nativo, coisa nossa, que conhece nossos macetes e pode me indicar o que de melhor devo fazer, gostar e sentir. Além das dúvidas a que qualquer homem se permite, por exagero da carne má de que fui feito tenho milhões de outras dúvidas, algumas suportáveis, outras abomináveis. Nunca sei onde posso comer a melhor pizza, comprar o melhor livro (muito menos qual seria esse "melhor livro"), qual o bar que me serve o melhor uísque. Com o espaço que editores e cronistas estão abrindo para o novo Petrônio-árbitro, ficarei sabendo qual o melhor desodorante, qual a melhor atriz da TV. Nos espaços mais sérios, terei afinal as respostas que inutilmente procurei até aqui: o aborto é crime ou necessidade social? Haverá concórdia na Bósnia? E os palestinos? E a âncora cambial? Clinton merece ser condenado por assédio sexual? E onde estão os ossos de Dana de Teffé? Minha pauta de dúvidas é imensa, variada e não deixa de ser divertida. As respostas também serão divertidas. Texto Anterior: O jeans da oposição Próximo Texto: Apreensão infundada Índice |
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