São Paulo, quinta-feira, 4 de setembro de 1997
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Ibama investiga tráfico de insetos

FABIO SCHIVARTCHE
RODRIGO VERGARA

FABIO SCHIVARTCHE; RODRIGO VERGARA
DA REPORTAGEM LOCAL

Francês é preso com 78 besouros e 135 borboletas coletados em floresta no Amazonas

O posto do Ibama no Parque Nacional do Pico da Neblina, no Amazonas, investiga a existência de uma rede internacional de tráfico de animais silvestres, envolvendo besouros e borboletas nativos de florestas brasileiras.
O preço oferecido por um espécime varia de alguns centavos de dólar a US$ 1.000, segundo as informações recebidas pelo Ibama e pelo antropólogo Carlos Alberto Ricardo, coordenador de projetos pelo Instituto Socioambiental em São Gabriel da Cachoeira, cidade onde fica parte do parque.
Os insetos, diz Ricardo, estariam sendo comprados desde maio em remessas mensais por um escritório francês de entomologia -ciência que estuda os insetos-, para fabricação de remédios e artesanato.
O primeiro indício do tráfico surgiu com a apreensão, pelos fiscais do parque, de uma cópia de um catálogo de preços das espécies de insetos com o carimbo do escritório francês.
A lista foi entregue ao Ibama por um morador que queria saber se poderia coletar aqueles animais para vender.
As suspeitas cresceram há duas semanas, quando a Polícia Federal do Amazonas prendeu o francês Joseph Merghel, que estaria tentando embarcar de Tefé para Manaus (de onde seguiria para Bruxelas) com 78 besouros e 135 borboletas recolhidos da floresta.
Seu companheiro, Marc Soula, continua foragido. Segundo a PF, Soula também teria espécimes coletados ilegalmente.
Há dois métodos para a coleta desses insetos, de acordo com as investigações. Alguns moradores usam lâmpadas para atrair os besouros à noite.
Outros usam motosserras para derrubar pés de buriti. Depois de alguns dias, a árvore cortada exala um cheiro que atrai os insetos.
Merghel disse à polícia que é publicitário e estava fazendo uma pesquisa "amadora". Mas o superintendente da PF no Amazonas, Mauro Spósito, suspeita que a coleta tinha fins comerciais.
Spósito disse que já recebeu mais de 20 denúncias de biopirataria neste ano.
"Desde o início do ano estamos investigando as denúncias, mas o caso de Merghel foi o primeiro que conseguimos materializar", disse.
A investigação do Ibama no Parque Nacional do Pico da Neblina, entretanto, não progrediu "quase nada", segundo Eliana Lemos de Gomes, diretora da reserva.
Eliana afirmou que a pessoa que portava o catálogo não deu informações sobre o documento. O parque, de 20 bilhões de metros quadrados, tem apenas quatro funcionários.

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