São Paulo, quinta-feira, 4 de setembro de 1997
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Os 40 anos do eucalipto

BORIS TABACOF

Agosto de 1957. Para os que acreditam na capacidade criativa e empreendedora dos brasileiros, é uma data significativa. Naquele mês era produzida nos arredores de São Paulo, pela primeira vez no mundo, celulose fabricada com a madeira do eucalipto.
No município de Suzano, onde chácaras e hortas dominavam a paisagem bucólica, erguia-se a chaminé de uma fábrica modesta, na qual um pequeno grupo de técnicos dirigido pelo jovem Max Feffer dominava a técnica, ainda incipiente, de utilizar uma fibra de "segunda classe" para fazer papel.
A audácia de desafiar produtores seculares, que utilizavam a madeira "nobre" dos pinheiros das regiões temperadas do globo, talvez não fosse evidente naquele tempo.
No mundo real dos empresários, o sucesso das iniciativas depende de uma boa mistura de conhecimentos e de intuições, de ser, ao mesmo tempo, visionário e calculista.
A história não registra os inúmeros fracassos, mas os casos bem-sucedidos marcam rumos novos de incalculável repercussão.
É o caso do eucalipto, na sua incrível adaptação ao ambiente brasileiro. Mas a fabricação de papel de eucalipto esbarrava, naquele tempo, na aparente inviabilidade de ser uma fibra curta e dura, ao contrário da madeira das coníferas do Hemisfério Norte. Justamente aí concentrou-se a férrea determinação de desenvolver a tecnologia que permitisse produzir, em bases industriais, papel de boa qualidade a partir daquela madeira.
O longo caminho percorrido nessas quatro décadas é uma história exemplar que levou o Brasil de importador a forte participante no mercado internacional, no qual ocupa hoje o oitavo lugar na produção de celulose e o 11º na produção de papel. Nessa história surgem casos de desenvolvimento tecnológico, de marketing, de engenharia financeira, de formação de quadros profissionais, formando uma lista para um bom currículo teórico e prático, demonstrando a capacidade brasileira de inovar e conquistar mercado com produtos competitivos em qualidade e preço.
Mesmo antes do início do ciclo de abertura da economia brasileira que ocorreu nos últimos anos, a visão da indústria de celulose, predominantemente nacional, já era globalizada, o que ficava evidente na dimensão dos projetos implantados desde a década de 70, com a perspectiva do mercado mundial.
Mas vamos em frente. Não há vitórias definitivas, especialmente no momento em que extraordinárias transformações ocorrem em escala planetária. Ao pioneirismo do passado sucede uma estrutura empresarial já consolidada, capaz de enfrentar a competição global, desafiadora, mas plena de oportunidades. A indústria brasileira de celulose e papel, que nasceu e cresceu sob o signo da competição, tem plena consciência de que deve aumentar a sua escala, manter-se afiada na atualização tecnológica e fortalecer sua base de capital.
As condições de contínuo crescimento do setor dependem, em primeiro lugar, das próprias energias de cada empresa, pois passou o tempo dos planos nacionais sob a égide governamental. Cada uma define sua estratégia, sua dimensão e suas formas de atuação em relação a produto e mercado.
Embora esteja claro que cabe a cada empresa escolher o seu caminho e correr seus riscos, é indispensável, no entanto, que as políticas macroeconômicas mantenham as condições de competição, que se acirram na medida em que outros países disputam espaços no mercado global, favorecidos, às vezes, por condições tributárias, de crédito e de câmbio que lhes dão vantagem.
Quarenta anos de idade, para a indústria, são o tempo da maturidade, plena de energia e disposição para continuar na ponta do desenvolvimento. É o compromisso assumido e que será mantido.

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