São Paulo, quinta-feira, 4 de setembro de 1997 |
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Elogio à música sem aspas
GUGA STROETER
A mais interessante característica do evento é ser contemporâneo e celebrar a musicalidade. A musicalidade, esse conceito vital que vem sendo sistematicamente ignorado e que hoje parece banido da lista dos fatores que compõe o fenômeno da fruição e do fazer musical. Vivemos num período em que não se discute nada além de vendas e comportamento. O trabalho do artista de música hoje chega ao público com prioridades invertidas. Consome-se o ineditismo de seu figurino, a sensualidade de sua coreografia, a qualidade da edição de seu videoclipe, sua postura em relação às drogas, ou os escândalos sexuais que é capaz de promover. A habilidade de criar melodias e harmonias, a capacidade de lidar com as informações musicais parecem preocupações saudosistas. Cabe usar Van Gogh como metáfora para ilustrar o panorama: fosse ele um artista contemporâneo, sua obra se resumiria à orelha decepada, não importando seu talento para pintar quadros. O Free Jazz vem colaborar para que se desfaça essa distorção, afinal de contas o que chamamos de jazz e estilos afins prioriza a música em relação ao comportamento, não importando a idade, a procedência ou mesmo o sucesso comercial do artista. Tomara que o vocalista Jason Kay e seu grupo Jamiroquai sejam compreendidos como excelentes músicos que são e não pelo fato de ele usar cartolas esdrúxulas e capacetes de chifres. Texto Anterior: Free Jazz anuncia suas atrações Próximo Texto: QUEM É QUEM Índice |
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